sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Halloween II ( ** )

Terapia em família

E o roqueiro cineasta Rob Zombie continua a sua saga em busca de um cinema de horror autoral, com sangue e violência por título suficientes para preencher generosamente uns outros seis longas mais comedidos. Curiosamente, ele se apega mais uma vez à clássica franquia Halloween, que ele tenta pela segunda vez transformar em um produto orginal, que ele possa chamar de seu.Não deu certo antes, também não deu agora. Mas a direção e a escrita em Halloween II são tão dedicadas que faz até pena desancar filme. É uma porcaria, mas uma porcaria admirável.

Zombie foge das convenções do mundinho do horror
que nem final girl foge de psicopata , então os sustos convencionais do gênero slasher estão quase ausentes aqui. Ela troca a simplicidade e o festival de sustos por uma espécie de terapia familiar fantasmagórica e histérica, que traz de brinde vários signos do universo que o cara tanto gosta. Tirando o prólogo excelente, uma homenagem à primeira continuação da série (lançada em 1981,bem divertida e descartável) mas que depois se revela uma pequena trapaça e é logo descartado, o filme decorre numa investigação dos problemas psicológicos da família Meyers,com direito a muitos planos delirantes e flashbacks, sem falar nas alucinações constantes dos irmãos Myers, Lauren e Mike. Um mais doido do que outro. A irmã vai a um terapeuta. Como Mike não tem plano de saúde, ele mata com requintes de crueldade pra relaxar.

Na série original (1978 - 2002) Myers era o mal absoluto e, nos quatro filmes em que aparece,Laurie era uma azarada que tem a sina de ser perseguida pelo irmão barra pesada, mas sem nunca deixar de ser a mocinha. Aqui Zombie constrói um drama tétrico que às vezes beira o patético,mas não deixa de ser curioso. Continuando com sua psicanálise barata que geralmente só faz mal a filmes que lançam mão deste expediente
, ele reduz o doutor Loomis a um histérico que só quer saber de ficar rico e famoso explorado o caso Myers através de livros e palestras. Uma heresia, que deve ter feito o Donald Pleasance se revirar em seu caixão. Sem falar no humor ordinário, que chega ao cúmulo de registrar em celulóide a batida piada que confunde o nome do psicopata com o do comediante Mike Meyers, protagonista da série Austin Powers.

A Laurie 2.0 da Scout Taylor-Compton está ainda mais insípida, traumatizada e histérica. Enquanto dá chilique nas sessões com sua terapeuta (Margot Kidder,o membro mais curioso do elenco
kitsch), seu irmãozão perambula pelo interior fazendo miséria até chegar a cidade da caçula, pra fazer aquilo que um irmão maluco tem que fazer, oras. Os personagens, seguindo a escola Zombie de construção dramática, parecem não ter lá muito personalidade, e a maioria xinga muito e se comporta de forma leviana. Metade do vasto elenco passa dessa pra melhor.

Volentíssimo (se você tem problema com coisas como cabeças degoladas, esmagadas e afins, passe longe) e sem muito clima, o filme tem poucos sustos e muita alucinação com direito a cavalo branco e mamãe-fantasma, além do desfecho inacreditável que praticamente contradiz toda a natureza da série
Halloween original (pra se ter uma ideia, Meyers passa boa parte do filme sem sua clássica máscara!) e joga esta nova fase da franquia num rumo inacreditável - Halloween 3D (sério!) vem aí sob a direção do editor/diretor de terceira Patrick Lussier. E o amor continua ferindo Michale Myers e sua família. É fraco? Sim, bastante (um usuário do fórum do Imdb definiu bem o filme: "ele se alterna em morte violenta, peitos, morte violenta,peitos, algumas seqüencias de sonhos,peitos, morte violenta") mas tão delirante que pode acabar valendo uma sessão, pra depois ser esquecido na profunda vala dos remakes dispensáveis.

PSIU: A versão de H2 (que, por sinal, fracassou nas bilheterias americanas.Por que será?) que eu vi é a Unrated, mais violenta do que a que foi lançada originalmente nos cinamas norte-americanos. A PlayArte,mesma distribuidora que lançou o Halloween anterior com cortes grotescos nas cenasviolentaspara conseguir umaclassificação indicativa menor, promete a película ainda para este primeiro semestre. Esperem sentados.

O MELHOR: as boas intenções do diretor Rob Zombie
O PIOR: de boas intenções Haddonfield está cheia

Halloween II / Rob Zombie / 2009 (1.85:1)

4 comentários:

Saul disse...

"ele se alterna em morte violenta, peitos, morte violenta,peitos, algumas seqüencias de sonhos,peitos, morte violenta"

preciso ver \m/

Julio disse...

Tambem sou chegado nessas tosqueiras. Quero ver, definitivamente. Tem previsão de lançamento em DVD?

mario jorge disse...

"ele se alterna em morte violenta, peitos, morte violenta,peitos, algumas seqüencias de sonhos,peitos, morte violenta" ...
dependendo do q vc espera ver ou isso pode ser uma merda ,ou como no meu caso , um filme divertido sem grandes pretensões .

João Daniel Oliveira disse...

Saúl,finalmente já viu o filme?

Julio,em dvd ainda não, mas o filme tá previsto pra chegar aos cinemas brazucas em março.

Mario Jorge, realmente. Mas neste caso,para mim, é uma porcaria mesmo, rs. E pretensioso o filme é sim. E muito.