quarta-feira, 5 de março de 2008

Orgulho e Preconceito ( ****1/2 )

Hipnose sensorial.

Jane Austen, pelo que consta, teve uma vida amorosa difícil e infeliz –e fizeram até um filme sobre isso, o ainda inédito no Brasil Becoming Jane. Logo, fica fácil entender por que em dois de seus romances mais famosos (Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade) as suas heroínas, longe da perfeição, mas mulheres dignas e admiráveis, penam, choram e esperam bastante pelo homem de suas vidas, resultando em finais felizes, e surpreendentemente, nada artificiais.

Ang Lee fez um trabalho maravilhoso na adaptação de Razão e Sensibilidade, fazendo um filme sereno e extremamente bem dirigido, e ao que parece fiel ao espírito da obra. As tramas de Austen podem soar novelescas, mas são traçadas com uma inspiração e delicadeza tão grande que, quando encontram um diretor da estatura de Lee, acabam resultando em filmes acima da média do que se encontra por aí. O romance, o suspense, a sátira social, tudo intacto e moderno. Ouso dizer que este é um filme perfeito, não consigo achar um defeito.

Então vamos a este novo Orgulho e Preconceito. Projeto ousado, afinal a obra já foi adaptada diversas vezes, sendo a versão mais famosa uma minissérie britânica, ainda muito viva na cabeça dos fãs de Austen – infelizmente essa obra nunca chegou no Brasil, mas pode ser conferida por meios alternativos (e pouco ideais) como You Tube.

Quando li a respeito, não me animei muito. Quem diabos é Joe Wright? Keira Knightley consegue segurar o filme como protagonista? O que pode ter de novo aqui? As imagens iniciais não me animaram muito, mas hoje posso dizer que foi uma das melhores sessões de cinema que eu já tive, e o filme se tornou um dos meus favoritos- é um dos filmes da minha dvdteca que eu já vi vários vezes, correndo o risco de enjoar e deixar de lado, mas sei que daqui a pouco já vou querer rever de novo.

O que gosto mais no filme é que a direção de Wright não é nada acomodada, com movimentos de câmera inventivos, planos seqüências que não estão ali por enfeite, mas sim pra servir bem a narrativa, e também o cuidado excepcional que ele dá aos detalhes – a ambientação é perfeita, os closes sensacionais.

Ele escolhe um caminho diferente do de Ang Lee, mas ambas as adaptações são excelentes por não caírem na armadilha da sisudez e da reverência excessiva às obras originais. A energia é sempre presente no filme de Wright, e em nenhum momento a saga se torna novelesca, simplória. E eu nunca vi uma direção de fotografia, mais a expressão de uma atriz e uma trilha sonora trabalharem tão bem juntas quanta na cena -clássica em filmes de época, mas cheia de frescor aqui- como aquela em que a Keira Knightley literalmente se encontra à beira de um abismo, pensando em que caminho sua vida está indo.

Outro ponto de destaque são os atores. Há quem diga que Keira não “entendeu” o papel, o que acho que é uma bobagem, mas realmente talvez ela seja jovem e bonita demais em comparação as descrições da autora. Nada que atrapalhe, e seu sorriso débil funciona bem aqui. A revelação Matthew Macfadyen constrói um Sr. Darcy perfeito, não há o que reparar. Todos estão, resumindo, muito bem, mas é impossível não destacar o patriarca interpretado por um Donald Sutherland excepcional. Que esse cara não tenha levado um Oscar – ou qualquer outro prêmio que seja- por esse filme é algo que nunca entenderei.

Austen pode escrever o que seu público queira ler, mas isso nem de longe é defeito, seus livros acertam na mosca e são tão detalhados, que suas complicações e conseqüentes descomplicações se acompanhem com muita atenção e suspense, e são coerentes com os problemas do lado de cá.

Filme que se assiste com imenso prazer, com imagens hipnóticas e tão bem trabalhadas que é impossível queimpossível não soltar um pqp...que coisa bem feita. Recomendado tanto aos românticos quanto aos céticos, que podem achar isso aqui uma grande comédia. Só não dá pra ficar indiferente.

E Joe Wright é uma das maiores e melhores revelações dos últimos tempos.


*Não relatei a sinopse, como usual. Não sabe? Joga no google.


Pride & Prejudice / Joe Wright / 2005 / (2:35:1)

2 comentários:

Roberto Cotta disse...

Joe Wright promete mesmo. É um dos mais talentosos dessa nova geração. Embora eu já tivesse dito aqui no blog que não sou um fã absoluto da história de O&P, o cara é foda. Ele tem um cuidado diferenciado com sua produção em todos os aspectos.

João Daniel disse...

Pois eu acho a história um dos pontos fortes,o livro é excepcional.

E o cara é mesmo ultra cuidadoso e detalhista com as filmagens, você vai gostar mais ainda do Desejo e Reparação, que é uma maravilha de bem-feito.