domingo, 22 de abril de 2007

A Rainha ( **1/2 )


God Save The Queen...she ain´t no human being...
Filme bem interessante este A Rainha. Parando pra pensar nele, fica a certeza de ser uma obra de certa forma arrogante e curiosa, pelo tema e por lidar por personagens que são ícones, vivos ou não, e sempre presentes na mídia. Um exemplo que serve de paralelo para se situar seria a idéia de filmar daqui a alguns anos o envolvimento de Lula no escândalo do mensalão, ou melhor ainda, o impeachment de Collor. Imagine aí o personagem tendo conversas com a mulher no meio da madrugada, sendo xingado na rua e se decepcionando quando expulso da cadeira de presidente. E o filme terminaria com ele prometendo voltar um dia. Brrrrr...

Há quem chame este aqui de telefilme cheio de pose, o que não deixa de ser verdade, sem desmerecer a obra do interessante Stephen Frears (Ligações Perigosas, Alta Fidelidade). Mas a estrutura do filme é tão parecida com produções de tv, sem falar no tema que não faria feio numa HBO e BBC, que não dá pra evitar as comparações. Outro fator são as imagens de arquivo que recheiam o filme. Muito estranho ver na telona aquelas cenas de tv, com definição ruim e destoando do resto. Talvez a intenção fosse passar realismo, situar o espectador junto aos fatos e economizar no orçamento, mas não me agradou.

A fotografia do brasileiro Affonso Beato é clássica e bela nas cenas da Famíla Real, e granulada e mais contida nas cenas de Tony Blair, mas isso não diz muita coisa. O elenco está excepcional, e o resultado é positivo.

Curiosamente achei Helen Mirren ao mesmo tempo a melhor e pior coisa do filme. Não se enganem, a atuação dela realmente é muito boa, e os prêmios ganhos por ela são todos merecidos. Mas num filme que aposta tanto na semelhança com a vida e os fatos reais, o fato de Mirren não parecer nem um pouco com a Rainha Elizabeth II atrapalha, e muito. Já Michael Sheen lembra muito Tony Blair e está excelente, embora o personagem seja um favorito do roteirista Peter Morgan. Sheen talvez tenha sido o ator mais injustiçado na temporada de premiações, seu retrato de Blair é muito interessante.

O roteiro de Morgan especula um bocado, mas não importa se você acredita no que o filme mostra entre os bastidores, afinal muito da história são fatos, e é bom saber uma ou mais coisas interessantes sobre a sociedade britânica, a Monarquia e o culto a celebridades.

Outro fato que me chamou a atenção é que o filme não é só de/sobre Elizabeth II, mas também de/sobre Blair e, claro, Ladi Dy, que, não é exagero dizer, pode ser interpretada como a rainha do título (seria uma ironia?), embora aqui se explique o surgimento do “título” Princesa do Povo.

Uma pena que a sessão em que eu vi o filme esteja um inferno, cheio de adolescentes cretinos atrapalhando a sessão, bate boca com lanterninhas, gente falando alto no celular...enfim um verdadeiro inferno, e que me tirou a concentração e também o prazer de apreciar o filme. Agora é esperar para conferir de novo em dvd e, quem sabe, gostar mais.

A cena do cervo é belíssima, e um dos momentos mais inspirados que eu já vi num filme esse ano, ótima sacada do roteirista. Outra cena muito boa é a da garotinha com buquês de flores, forçada, mas bem eficiente.

E o que será que Elizabeth II achou disso tudo? Declarações oficiais afirmam que ela sequer viu o filme, o que a primeira vista pode parecer improvável, mas a julgar pela personalidade dela mostrada aqui, pode bem ser verdade. Talvez só descobriremos sua opinião sobre o filme depois de sua morte ou até mesmo nunca... Nobreza é outra coisa, goste ou não.

O MELHOR: as atuações de Mirren e Sheen O PIOR: a poluição visual e o romantismo excessivo do "personagem" Tony Blair

2 comentários:

Anônimo disse...

Otimo comentário, reforçou o meu desejo em não ver o filme sobre uma das rainha mais apagadas da história.

Roberto Cotta disse...

Um telefilme chatinho com uma boa atuação de Helen Mirren.