Curiosamente este filme de abertura da celebrada e irregular quadrilogia Alien era o que eu menos gostava dos quatro, já que eu sempre associava a obra à parte da filmografia do Ridley Scott que eu não admirava – aliás, tenho a impressão de que não gosto da maioria dos seus filmes. Curiosamente, adorei esta versão do diretor lançada em 2003, que era pra ser lançada mundialmente nos multiplexes do mundo, mas ficou só no universo do home vídeo.
Com a nova e aparentemente definitiva edição de Blade Runner que Scott lançou há dois anos, também em DVD, estas duas obras marcam o melhor da filmografia do diretor inglês. Esta versão definitiva está disponível em DVD duplo, em uma edição que também apresenta o corte original de 1979, e extras sensacionais. Infelizmente os comentários em áudio não estão legendados em português, obrigado Fox.
O filme se desenvolve como uma mistura inovadora, na época, de conto de casa de mal assombrada e slasher movie, com direito a uma direção de arte de cair o queixo – requinte visual é o que nunca faltou em filme algum do Ridley Scott. Efeitos especiais impressionantes também, que marcaram época em uma época em que Star Wars inovou o segmento. O universo sci-fi nunca foi tão rico como nas décadas de 1970 e 1980, mesmo com os recursos limitados, se comparados a hoje. Os efeitos especiais foram melhorando cada vez mais na indústria norte-americana, mas a criatividade dos cineastas, pelo contrário, foi minguando a cada ano. Triste. Mas voltemos à Nostromo.
É um grande filme também porque permite várias leituras, e os melhores filmes de gênero são aqueles que, além de fornecer diversão instigante, permite que o espectador viaje em sua maionese, e à vontade. Hoje eu vejo Alien – O Oitavo Passageiro como um filme conservador, sem isso ser necessariamente ruim, com uma moral toda especial sobre a postura do ser humano diante do trabalho. Sério.
Pelo menos até ao fim da primeira metade do filme os diálogos giram em torno de direitos trabalhistas, obrigações, tarefas que ninguém quer cumprir, relação entre colegas e decisões que ultrapassam questões éticas. Pode-se estranhar esse lero todo num filme de horror disfarçado de ficção científica, mas tudo cai tão bem aqui, criando um clima realista, totalmente convincente.
Os personagens reclamões, preguiçosos ou poucos espertos são os primeiros a serem empacotados. Ripley, a antológica personagem de Sigourney Weaver, é a única que tem firmeza, responsabilidade e, err, culhões. Ripley é mulher, mas faz aquilo o que um homem tem que fazer. É a final girl definitiva, e nós amamos isso.
E o assédio sexual no ambiente de trabalho minha gente?O alien grotesco não perde a chance de bolinar a personagem da Veronica Cartwright, passando a sua enorme cauda no traseiro da pobre coitada, antes dela passar dessa pra melhor. Depois fica escondidinho na nave, quase hibernando, sendo revelado, num susto sensacional, depois que Ripley tirou a roupa e fica só de calcinha e sutiã,minúsculos por sinal. Teorias afirmam que a cena inicialmente planejada mostraria Sigourney totalmente nua, o que seria uma demonstração da fragilidade do ser humano perante uma máquina mortal, o próprio alien psicopata. Mas nudez frontal em blockbuster não pode, segundo a cartilha, então tentaram diminuir o apelo filosófico, e ficou o erótico. Ficamos então com um e.t. taradão e voyeur, e funciona que é uma beleza.
Bela máquina de sustos, grande filme. As continuações, díspares e interessantíssimas, são um assunto futuro.
- Dá um beijinho no tio!
Alien – The Director´s Cut / Ridley Scott / 2003 (2:35:1)
Um comentário:
Genial. Concordo com tudo. Maior verdade ever: falta de criatividade em holywood. foi minguando mesmo. Eu vejo o filme como um belo retrato de masculinidade feroz. A mulher é menos frágil que o resto, e mais capaz que todos da nave, mesmo assim, ela é vista apenas como o pedaço de carne com peitos pequenos. E o Alien é nada mais que o homem em seu estado puro. Que tal?? heuaheueh
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