sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Algumas notas sobre as indicações ao Oscar 2011

             A atriz Mo'Nique e o presidente da Academia, anunciando os principais indicados na última terça (24)

Gostei, de uma forma geral, da lista dos indicados ao ao Oscar. Se não tivemos surpresas como no ano passado (quando, pela primeira vez em décadas, foram anunciados 10 filmes concorrentes na categoria principal, o que permitiu a entrada de títulos curioso como Distrito 9 e Um Sonho Possível), este ano a lista de filmes citados parece bem razoável. Mesmo assim, com dez vagas, ainda não tivemos nenhum filme não falando em lingua inglesa citado como "os dez melhores do ano" pela Academia. Isto é preocupante. Mais para eles, claro.

Esnobadas: muita gente reclamando da "exclusão' da Mila Kunis e do Ryan Gosling, por exemplo,  na lista de melhor atiz coadjuvante e ator. Saindo da discussão se Mila, indicada aos importantes prêmios dos Sindicato dos Atores (cuja cerimônia contecerá no próximo domingo)  e Globo de Ouro (perdeu pra Melissa Leo, de O Vencedor) merecia ser indicada ou não (meu veredito: não), ser indicado a um Oscar envolve fama, carisma, precedentes criminais e muito lobby, coisas que já são misteriosas para os moradores de Hollywood, quanto mais para o resto dso mundo. Mas, para mim, falar em esnobada é totalmente sem sentido - onde estava escrito que ela seria indicada? Há uma lista enorme de atores e cineastas que não são citados, então se for assim, todo ano milhares de artistas são "esnobados" pela Academia. Eu vejo o Oscar como um prêmio/evento de inclusão, nunca de exclusão. Quem deu sorte de entrar lá, que aproveite. O resto do mundo continua girando.

Mas...

Causou burburinho o fato de que o Christopher Nolan ficou de fora da lista de melhor diretor, mais uma vez (era esperado que ele fosse indicado em 2009, por Batman - O Cavaleiro das Trevas. Não rolou). Com isso, o seu sucesso A Origem, que também foi esnobado na categoria de edição (vejam só: antes das indicações, os futurólogos previam que o filme era o favorito nesta área), torna-se automaticamente fora da corrida pelo prêmio de melhor filme, mesmo estando lá e somando um total de 8 citações. Coisas da Academia. (Obs: bem feito pro Nolan).

Enfim, a categoria de atriz coadjuvante é um mistério (pode dar qualquer uma das cinco, acredite), veremos se os acadêmicos já superaram a antipatia pelo Christian Bale e o David O. Russel (dar chiliques em set e se envolver em escandâlos familiares não é uma novidade para atores e cineastas, mas estamos na era do YouTube, você sabe).

Dos indicados a melhor filme, já vi A Rede Social, Cisne Negro, A Origem, Toy Story 3, Inverno da Alma e Minhas Mães e Meu Pai. Se eu conseguir assistir O Discurso do Rei, Bravura Indômita e O Vencedor antes da cerimônia (dia 27 de fevereiro), publicarei um post especial sobre os filmes. Ao que tudo indica, a disputa é entre o filme do Facebook e o filme do rei gago.

*Não esqueci que 127 Horas foi indicado a melhor filme. Mas não sei se terei estômago pra conferir um filme sobre um esportista que fica cinco dias preso numa rocha, e pra sobreviver tem que amputar, em cenas explícitas, uma parte do seu corpo. Medo.

Alan Pauls, na Folha: "Condição adolescente de ser uma eterna promessa envolve cineasta Sofia Coppola e sua obra"


Sofia Coppola está prestes a completar 40 anos, mas continuamos tratando-a como adolescente. Como se seus filmes -e ela já fez quatro- não fossem frutos de seu talento, sua sensibilidade ou sua inteligência, mas promessas de uma obra futura em que se revelará a verdade por inteiro. 

Por quê?Pelo carma de ser filha de Francis Ford Coppola? Ou porque continuamos a enxergá-la como a muito jovem Mary Corleone de O Poderoso Chefão - Parte 3?

Nessa estranha ilusão óptica que geram os filmes de Coppola, há algo que não se deixa explicar pelos avatares biográficos da diretora nem pela poluição midiática que contamina sua estirpe. Algo que está relacionado aos próprios filmes. Como se esse erro de paralaxe fosse um dos elementos internos decisivos, inclusive o segredo que os faz existir e os define.

Já se disse muito que o tema do cinema de Coppola é a celebridade. As irmãs Lisbon, de As Virgens Suicidas (1999), são estrelas da disfuncionalidade familiar, assim como Maria Antonieta (2006) o é no mercado da mundanidade monárquica.

Nem há o que dizer sobre Bob Harris, de Encontros e Desencontros (2003), inspirado nessa "bête noire" do "star system" de Hollywood que foi Orson Welles.

IMPASSIBILIDADE

O protagonista de Um Lugar Qualquer também é um desses seres marcados pela hipervisibilidade. Ator de Hollywood, Johnny Marco é apático como Harris, inocente como Maria Antonieta e autoabsorto como as meninas Lisbon.

Coppola descreve a vida de Marco com a mesma impassibilidade, a mesma falta de ênfase e hierarquias dramáticas com que filmou a via crucis de Bob Harris pelo labirinto ilegível de Tóquio.

Tudo indica que Johnny Marco é famoso, mas o que Sofia Coppola omite é o porquê. Marco não é especialmente bonito, simpático ou brilhante. Ignoramos tudo sobre sua carreira e sua habilidade como ator.

A única coisa que nos é mostrada é um cartaz de seu último filme e uma entrevista coletiva que Marco resolve com monossílabos. Mas ele tampouco é especialmente idiota, extravagante ou rebelde. Digamos de uma vez: Johnny Marco não é nada.

Como pode, portanto, ser uma celebridade? Aqui está a descoberta mais sutil, mais "warholiana" de Um Lugar Qualquer: a ideia de que a fama, em sua versão contemporânea, é um enigma.

Não é o resultado lógico e progressivo de um trabalho, uma carreira, um conjunto de qualidades pessoais, mas uma mais-valia mágica, invisível, que nunca procede daquele que a ostenta, mas do exterior, dos outros, daqueles outros em que Sartre costumava localizar o inferno.

Assim, Marco é apenas o herói menor, subsidiário, do filme de Coppola. Os verdadeiros heróis são outros: camareiros, assessores de imprensa, comissários de bordo, strippers, toda essa pequena legião de artistas conceituais camuflados que fazem desse nada que é Johnny Marco uma celebridade.

Desse nada, ou desse adolescente eterno que ele é, porque o que é a adolescência senão esse grande momento no qual -para o bem ou para o mal- somos o que os outros decidem?

Não é, portanto, o tema da celebridade o que distingue o cinema de Sofia Coppola. É sua hipótese -corroborada por ela mesma, congelada na condição adolescente de ser uma promessa eterna- de que celebridade e adolescência são experiências gêmeas e que, para ser célebre, não é preciso ser ou fazer nada: só deixar-se fazer pelos outros. 

ALAN PAULS, escritor argentino, é autor de "O Passado" (Cosac Naify), entre outros. 
Tradução de CLARA ALLAIN 

Publicado originalmente na FOLHA ILUSTRADA. Link para a página original: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2801201114.htm 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O que eu ando (re)vendo em 2011


 1. O Diário de Bridget Jones ***

Ótima adaptação do romance de Helen Fielding, que por sua vez é levemente inspirada no clássico Orgulho&Preconceito, da Jane Austen. A texana Renée Zellweger está surpreendente como a trapalhona Bridget, e ela, Colin Firth e Gemma Jones são as melhores coisas do filme. Curtinho, divertido, redondinho.

Ponto alto: a química entre Zellweger e Colin Firth.

Bridget Jones's Diary (Sharon Maguire, 2001) *** Disponível em dvd pela Universal Pictures


2. Um Amor na Trincheira ***

Baseado numa história real, conta a história do relacionamento entre um soldado e um transexual, que terminou em tragédia nos EUA. Dirigido pelo veterano Frank Pierson, já familiarizado com o assunto (é dele o roteiro do clássico Um Dia de Cão, em que Al Pacino tinha um amante travesti), este telefilme impressiona não só pela sobriedade na abordagem do relacionamento de Barry Winchell (Troy Garity, ótimo) e Calpernia Addams (Lee Pace, numa atução impressionante), mas também por mostrar a quantidade de gente desequilibrada que frequenta os quarteirões do Exército norte-americano.

Ponto alto: a caracterização e atuação de Lee Pace, e a valorização de Troy Garity (filho de Jane Fonda), finalmente num grande papel.

Soldier's Girl (Frank Pierson, 2003) Inédito em dvd no Brasil, exibido no canal pago GNT.


 3. O Mundo Perdido: Jurassic Park ***
Continuação bobinha de Jurassic Park. Se não acrescenta nada de realmente novo à série, é um filme B muito divertido, com Spielberg apropriando-se de King Kong descaradamente e fazendoa festa com efeitos especiais impressionantes. De resto, é infantil e maniqueísta demais. Mas diverte.

Ponto alto: a seqüencia do trailer no penhasco, absurda e inesquecível, numa direção mirabolante de Spielberg.

The Lost World: Jurassic Park (Steven Spielberg, 1997) Disponível em dvd pela Universal Pictures


* De vermelho, filmes inéditos. De preto, revisões.

Filmes de Dezembro de 2010

                                                                                    
1. FATAL (Elegy, de Isabel Coixet) **

2. RESSACA DE AMOR (Forgetting Sarah Marshall, de Nicholas Stoller) ***

3. TUDO SOBRE MINHA MÃE (Todo Sobre Mi Madre, de Pedro Almodóvar)  *****

4. ATRAÇÃO PERIGOSA (The Town, de Ben Affleck) **
 
5. FILADÉLFIA (Philadelphia, de Jonathan Demme) ***

6. CYRUS (Cyrus, de Jay Duplass&Mark Duplass) ***
 
7. INVERNO DA ALMA (Winter's Bone, de Debra Granik) ***

8. ENTRE QUATRO PAREDES (In the Bedroom, de Todd Field) **
 
9. NOT QUITE HOLLYWOOD: THE WILD, UNTOLD STORY OF OZPLOITATION! (Not Quite Hollywood: The Wild, Untold Story of Ozploitation!, de Mark Hartley) ***

10. WALL STREET 2: O DINHEIRO NUNCA DORME (Wall Street: The Money Never Sleeps, de Oliver Stone) **
 
11.TIROS NA BROADWAY (Bullets Over Broadway, de Woody Allen) ***

12. BEIJOS E TIROS (Kiss Kiss Bang Bang, de Shane Black) ***
 
13. RECIFE FRIO (Recife Frio, de Kléber Mendonça Filho) *** (curta)

14. A NOVIÇA REBELDE (The Sound of Music, de Robert Wise) ***
 
15. O SILÊNCIO DOS INOCENTES (The Silence of the Lambs, de Jonathan Demme) *****

16. PECADOS ÍNTIMOS (Little Children, de Todd Field) ***
 
17. UM LUGAR QUALQUER (Somewhere, de Sofia Coppola) **

18. CISNE NEGRO (Black Swan, de Darren Aronofsky) ***
   

Filmes de Novembro de 2010



1. A ORIGEM (Inception, de Christopher Nolan) **

2. MACHETE (Machete, de Robert Rodriguez) ***

3. SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO (Scott Pilgrim Vs. the World, de Edgar Wright)  ***

4. MEU QUERIDO COMPANHEIRO (Longtime Companion, de Norman René) *
 
5. PIRANHA 3D (Piranha 3D, de Alejandro Aja) ***

6. VIDA DE SOLTEIRO (Singles, de Cameron Crowe) ****
 
7. MINHAS MÃS E MEU PAI (The Kids Are Alright, de Lisa Cholodenko) ***

8. DEUSES E MONSTROS (Gods and Monsters, de Bill Condon) ***
 
9. A REDE SOCIAL (The Social Network, de David Fincher) ****

10. PARIS, EU TE AMO (Paris Je T'aime, de vários diretores) ***
 
11. IGUAL A TUDO NA VIDA (Anything Else, de Woody Allen) *

12. O PATRIOTA (The Patriot, de Roland Emmerich) **
 
13. BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS (The Dark Knight, de Christopher Nolan) ***

14. A MÚMIA (The Mummy, de Stephen Sommers) ***
 
15. MINORITY REPORT - A NOVA LEI (Minority Report, de Steven Spielberg) ****

16. GUERRA DOS MUNDOS (The War of the Worlds, de Byron Haskin) ***
 
17. OS DELÍRIOS DE CONSUMO DE BECKY BLOOM (Confessions of a Shopaholic, de P.J. Hogan) ***

18. A SAGA CREPÚSCULO: ECLIPSE (Eclipse, de David Slade) **
   
19. TRANSFORMERS: A VINGANÇA DOS DERROTADOS (Transformers: Revenge of the Fallen, de Michael Bay) *

20. AMOR À DISTÂNCIA (Going the Distance, de Nannete Burstein) ***
21. MULHER SOLTEIRA PROCURA... (Single White Female, de Barbet Schroeder) ***

22. A MENTIRA (Easy A, de Will Gluck) *

23. O NEVOEIRO (The Mist, de Frank Darabont) ****

24. JULIE&JULIA (Julie&Julia, de Nora Ephron) *