domingo, 3 de junho de 2007

O Jardineiro Fiel ( *** )


Abraçando o mundo

Filme estranho esse Jardineiro Fiel. É fácil gostar dele sendo brasileiro, afinal tio Fernando Meirelles conseguiu chegou lá, fez um filme saboroso, cehio de astros, oscarizável e, o melhor de tudo, cheio de consciência social pra dar, o que pra um cineasta vindo do terceiro mundo conta, e muito.

Curiosamente, o Senhor das causa sociais, Mr. Walter Salles, bastante humano, foi fazer um thriller de horror, o fracasso Água Negra, que tinha coisas boas, mas sofreu por não se aceitar como filme de horror – o cara se mete num remake de filme B japonês e não admite o fato, nunca dari acerto. Já Meirelles, saído do ultra megasuperestimado Cidade de Deus conseguiu material a altura do currículo, e se deu melhor. Mas não douremos a pílula.

Não é rabugentice meter o pau em O Jardineiro Fiel, mas o filme tem um clima artificial tão grande que quase resulta em desastre. Mas a câmera de Meirelles, afetada em alguns momentos, sensacional em outros, e a dedicação da dupla Ralph Fiennes/Rachel Weisz (ótima química, belas atuações) dão uma energia que disfarça um pouco a mistura indigesta de filme social, história trágica de amor e aventura de espionagem. É um mix ousado -e que acaba dando certo, descontando a forma absurda como os protagonistas se envolvem, um ou outro discurso artificial, e personagens que não convencem, como aquele primo da Rachel Weisz – ele e o filho hacker, um horror.

Filme que parece evitar ao máximo trazer clichês para a África (eles ficam só pela Europa mesmo), mas não resiste a uma ou outra imagem de cartão postal – se tratando de locações como o Lago Turkana, realmente é algo muito difícil. Realmente pinta uma identificação entre a favela africana e a carioca, mas o olhar aqui é mais carinhoso – embora não piegas - e livre de traficantes psicopatas, pelo qual agradecemos.

O filme faz um comentário pertinente, mas não estou atrás de lições de como fazer do mundo um lugar melhor quando sento para ver um filme, mas sim de prazer, diversão e certa elevação, se possível, por favor. Há um pouco disso nesse aqui, mas no geral o resultado é brochante. O filme é ágil, extremamente bem editado, mas não tem poesia, não pára para respirar – algo que sinto a falta em muitos filmes.

Lindo desfecho, no entanto. Apesar do personagem do Ralph Fiennes merecer umas bolachas, é algo coerente com o seu personagem, e traz um pouco de convencimento para a ligação supostamente forte dos personagens. Razoável.

The Constant Gardener / Fernando Meirelles / 2005 / (1:85:1)

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