quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Brüno ( *** )


Existe vida pós-Borat

Wundebar!Finalmente matei a curiosidade e conferi Brüno. Depois da intensa campanha de marketing, fruto da dedicação extrema de Sacha Baron Cohen na divulgação de seus veículos, parece que sobrou pouca coisa inédita para ser extraída do filme, mas há boas surpresas lá. Excetuando-se o fato de que tem a mesmíssima estrutura do ótimo Borat e, como o filme de 2006, parecer um tresloucado especial de TV a cabo e ser francamente irregular, achei este filme um jóia.

Se no filme de 2006 atacava-se a miopia norte-americana/ocidental quanto ao relacionamento com o diferente, a nova metralhadora giratória do comediante inglês mira no mundinho escroto da moda, nas contradições e superficialidade das celebridades e no preconceito contra os gays e negros.

Brüno, apresentador de TV austríaco de declarados 19 anos, e idade mental de 6, acaba virando reflexo de muita gente superficial solta por aí no mundo de entretenimento, e Cohen escolhe Los Angeles para ser o epicentro do seu ataque feroz, ousado e muito bem humorado sobre o mundo perigoso e tosco em que estamos mergulhados.

O filme parece uma colagem de quadros ousados e pegadinhas, editados em um ritmo frenético e mais bem resolvido do que o de Borat, investindo numa quantidade inédita de grosseria, mesmo para as comédias absurdas de Hollywood. Quem sobreviver aos primeiros minutos de Brüno agüenta qualquer coisa. Aqui a nudez e as piadas de borracheiro não são apresentadas em um tom jocoso ou inseridas em uma estrutura de ficção corriqueira, mas sim num tom de documentário que acaba causando uma certa estranheza e, logo atrás, um pouco de incômodo.

A produção vira uma salada mista. Cenas chocantes, com piadas visuais que não são vistas comumente em filmes de grandes estúdios, dividem espaços com momentos ácidos, ora encenados ora frutos das armações do comediante, e mais uma vez não fica lá muito claro o que é encenação e o que é fruto da espontaneidade,lembrando-se que estão diante das câmeras, das pessoas envolvidas.

Parece que coragem é apalavra chave aqui, pois Cohen mexe em vespeiros, que vão de entrevistas provocadoras com terroristas em territórios de conflitos religiosos ao registro em filme de várias insinuações de sites de fofoca. Chamar Mel Gibson de nazista ou John Travolta, Tom Cruise e Kevin Spacey de gays enrustidos numa produção cara da Universal Pictures definitivamente não é uma coisa que se vê todo dia.

PSIU: O hilário subtítulo Delicious Journeys Through America for the Purpose of Making Heterosexual Males Visibly Uncomfortable in the Presence of a Gay Foreigner in a Mesh T- Shirt era apenas mais uma piada da campanha de marketing, e não está presente na película.

O MELHOR: o tom ácido, absurdo e contundente

O PIOR: nem todas as piadas funcionam.

Brüno / Larry Charles / 2008 / 2009 (1:85:1)



3 comentários:

heron disse...

confesso que me senti um pouco "outsider" vendo Brüno... não entendia metade das piadas, ou por falta de referência pop, ou simplesmente porque não me acostumo com tal nível de esbórnia...

lembra que uma vez conversamos sobre isso?

as vezes acho que os euaenses se dão muito bem com essa acidez toda... tão bem que ela já não produz nenhum efeito, ninguém se incomoda mais, pois de gente escrota, aquele país está cheio deles

lembro que eu não perdia um adult swim, uma coletânea de desenhos malvadinhos que passava no cartoon network (!), veja só como a coisa se "neutralizou".

vem cá, não foi o tal Sacha que dirigiu esse?

Rafael Carvalho disse...

Esse não tive a oportunidade de ver ainda. Não sou dos maiores fãs de Borat, então não espero mais do que a escatologia e o politicamente incorreto dele, querendo chamar atenção. Mas verei assim que puder.

João Daniel Oliveira disse...

Eu acho o humor de Brüno tão explícito e escancarado (uma espécie de Casseta&Planeta ianque e mais ousado) que vale a pena uma olhada. Não é um filme extraordinário, mas tem ótimos momentos. Pra quem tiver estômago.