terça-feira, 6 de março de 2007

Apocalypto ( *** )


Apocalypto é uma boa surpresa, afinal eu não suporto os filmes anteriores de Mel Gibson, mas até que me diverti vendo esse. Há aqui muita coisa em comum com Coração Valente e A Paixão de Cristo, dois filmes chatos, pretensiosos e cheios de violência gratuita pra dar e vender. Apocalypto é pretensioso sim (e como não ser com um tema desses?), mas é envolvente e a violência aqui é mais aceitável do que nas outras obras de Gibson, afinal trata do extermínio de uma civilização. Gibson sente prazer em filmar a violência, e aqui você vai ver uma onça mastigar o rosto de uma pessoa, cabeças decepadas, cérebros expostos e outras coisas pouco agradáveis.

O filme é falado num dialeto antigo e o elenco convence na pele do extinto povo maia, mas todo o esforço de ambientação vai por água abaixo quando percebemos as falhas da fotografia digital usada pelo diretor em determinadas cenas, e quando vemos efeitos especiais fracos-como a tal onça, que é muito mal feitinha.

O que mais gostei foi que a história me surpreendeu. Pela sinopse que havia lido superficialmente, pensei que o protagonista seria uma espécie de Rambo primitivo, lutando para salvar/vingar a sua família. Mas o modo como o nosso herói é mostrado é convincente, e ele come o pão que o diabo amassou pra salvar a pele e a de sua família também. Mel Gibson adora um mártir.

A ação é muito bem coreografada, e há cenas muito boas, como a do eclipse na metrópole (fotografia e cenários incríveis aqui). Não há didatismo, e nem texto abrindo e encerrando o filme,ufa. Resumindo, apesar de certos aspectos estranhos, o resultado é positivo.

Agora um porém: dá pra engolir a mensagem de Gibson, sua visão carregada sobre o fim de uma civilização, quando sabemos que o cara é anti-semita, entre outras coisas feias? Isso não vai fazer eu gostar menos da obra, afinal um filme fala por si próprio, mas que isso deixa no ar uma nuvem de hipocrisia, é inegável...

5 comentários:

Unknown disse...

Eu acredito que o Gibson tenha lá sua hipocrisia, mesmo não tendo visto o filme. Afinal, é claro que ele vai focar a violência e a barbárie de pessoas que acreditavam em diversos deuses, já que ele acredita na existência de um só, e quem não tem JAVÉ DEUS no coração e não lê a SANTÍSSIMA SAGRADA BÍBLIA, Amém, o pai, o filho e o ESPÍRITO SANTO... bom, só pode ser um animal bárbaro e idólatra. Só sei que eu quero ver a porra da violência - e a reconstrução da cidade, figurino e artefatos. Acho que isso deve valer. Fora que eu também gosto de um mártir rsrs

Anônimo disse...

Filmar gente que sofre é coisa complicada, mas o MG faz isso bem e está ficando cada vez melhor. Ah João, o sujeito tem um estilo especial, reconhece ae. Paixão de Cristo tem toda aquela auto-importância dos católicos, mas é uma idéia madura e não acho que contenha anti-semitismos. E esse Apocalypto não passa de um puta filme. Quero inclusive, revê-lo... é isso... ah, viu o Marie Antoinette? Beeeemmm interessante. A menina é uma visionária em pleno auge criativo. Eca, odeio esses comentários metidos-a-besta mas eu não estou escrevendo em nenhum reduto pseudo-intelectual mesmo.

João Daniel disse...

Saul,ótimo ponto de vista,eu não tinha me ligado nisso.

Heron,comente como quiser,vc está entre amigos,rsrs.Ainda não vi MA,tô doido pra ver,e PdeC é uma droga,cá entre nós...
Tá na hora de vc fazer um blog,não acha não?

Anônimo disse...

Eu continuo achando que o Mel "ramboniza" os seus personagens, sim rsrsrsrs Mesmo nos filmes alheios ele tem essa mania de ser o exército-de-um-homem-só, em luta pela defesa/vingança da honra e integridade familiar ultrajadas, como vc tão bem apontou. Basta ver seus personagens de "O Patriota" ou até mesmo "Sinais". Creio que Apocalypto, antes de falar de fim de civilização, colonização e outras barbáries afins, quer mesmo refendar a família como a única salvação/referência possível diante do horror, tema "gibsoniano" por excelência. Não me admiraria nada se ele resolvesse filmar uma história da 2a Guerra, tendo por pano de fundo a desintegração de uma família "pura" (como a dos nativos, aqui). O cara é republicano e conservador até o último fio de cabelo e seus filmes não o negam. Mas as cenas delirantes das cabeças cortadas, dos escravos brancos de pó derramando sangue pela boca, são impactantes em sua violência absurda. Valem o resto do filme.

Vandic de Queiroz Coqueiro disse...

Eu ainda não assisti a mais esse polêmico filme de Gibson, e me sinto culpado por não tê-lo feito ainda. Hoje mesmo devo ir na locadora.
Mel Gibson talvez seja, atualmente, o diretor mais criticado pela mídia politicamente correta. Creio que ele está sendo crucificado injustamente, assim como o personagem principal de seu "Paixão de Cristo", cuja mensagem belíssima a mídia chique e os pseudo-intelectuais ousam comentar por considerá-la "careta". Em contrapartida, estes conseguem enxergar um certo "anti-semitismo" nesta produção. Sinceramente, mas eu e todos os cristãos que eu conheço que assistiram ao filme não vimos nada disso. Vai entender...
Pelo que eu sei, "Apocalypto" é também um ode à instituição família, e este é um dos motivos pelo qual eu faço elogios rasgados à película, ainda que eu não a tenha assistido. O cara gosta de reforçar a violência em suas produções, mas isto não me assusta: vocês já pararam para pensar o quanto de sangue e porradaria os seus diretores prediletos já utilizaram? O que há de errado em mostrar a brutalidade que foi a crucificação de um ser humano inocente há 2 mil anos atrás???