quarta-feira, 19 de março de 2008

Halloween ( ** )

O amor feriu Michael Myers

É muita coragem refilmar uma obra de John Carpenter. Um, por que seus filmes não precisam de melhorias, pois são bem feitos e envolventes. E,dois, por que são filmes que não envelhecem apesar de muitos anos nas costas, e portanto não precisam de “atualizações”.

Entretanto, nada contra tais remakes, contanto que eles tragamalgo de novo. Um exemplo é a nova versão de Assalto a 13 DP, que somou um visual e ritmo frenético e afetado, coisa bem anos 2000, ao original de sêo Carpenter. Mas também não mudou a vida de alguém.

E eis que o roqueiro metamorfoseado em cineasta (será ele um autor?) Rob Zombie decide que ele pode trazer algo de novo à mitologia de Michael Meyers e a série Halloween, uma das mais amadas e populares do gênero slasher. Coitado.

O problema aqui não é mexer no original, excelente e o meu favorito de Carpenter. A questão é que o remake, como muitos remakes aliás, é pálido em termos de criatividade e sempre fica à sombra do filme original, sem ousar nem trazer algo de novo. A solução encontrada por Zombie é das mais estúpidas: mostrar a infância do psicopata Myers, e mostrar por que o diabo do homem é tão malvado. Pluft.

Acontece é que um dos toques de mestre do original é justamente não explicar ou analisar o porquê de um menininho branquelo, riquinho e bem alimentado ter vontade de matar a irmã e sabe se lá mais quem. O não explicado, o oculto, é arma essencial em favor da aura de mistério e medo do personagem, algo como tio Spielberg não mostrar o tubarão até o final do filme, Polanski não mostrar por inteiro o bebê da Rosemary, e etc. Meninos, anotem: p-o-d-e-r d-e s-u-g-e-s-t-ã-o.

Então, meio que pra justificar, a família Myers se transforma num amontoado de white trash (coisa que sempre aparece nos filmes de Zombie, olha aí), onde a mãe é uma stripper, a irmã é uma vadia, o padastro um aleijado psicopata. Little Michael (ator mirim estranho e sem mistério algum),pra aliviar a pressão, tortura animaizinhos, e depois logo passa a exterminar coleguinhas de escola que chamam sua mãe de vadia.

Enquanto esse drama todo acontece, dona Myers dança em boates de striptease (de quinta categoria, é claro) pra sustentar a família. Curioso é ver a mulher se lascando na tal boate, dançando ao som de Love Hurts, enquanto o filhinho doido apronta todas. Eu não sei o que o diretor quer com uma cena dessas.

Essa parte inicial do filme, que culmina com Michaelzinho matando a família toda, menos mamãe, dura uma eternidade e não tem graça alguma. Quando o filme chega no vamos ver (e sim, até a fuga de Meyers, mostrada rapidamente no original, ganha muitos detalhes aqui) já bate um tédio.

O problema é que preencher essas “lacunas”, que funcionavam demais no filme 1978, não salva o filme do marasmo. É uma solução encontrada para evitar uma repetição das ações do ato final do filme, com os assassinatos das adolescentes, mas acaba sendo muita enrolação em troca de pouca coisa.

Zombie investe em intensidade, na violência, nos efeitos sonoros, aumenta o número de vítimas, mas privilegiar barulho em detrimento de roteiro não ajuda em nada. Coitado desse diretor. Aqui virou um mendigo, que pega cada migalha deixada por Carpenter, junta no pratinho, e tenta tirar uma refeição completa.Muda um detalhe aqui, outro ali, mas seu filme sempre continua sem vida e originalidade.

Nem transformar Meyrs num brutamontes gigante ajuda. A gente não fica com medo, mas se pergunta como ele arranjou um jeito de puxar ferro na cadeia. Troca a maravilhosa cena do armário por uma situação nova, mas que não tem metade da força daquela seqüência.

Outra falha grave é o elenco. As adolescentes são extremamente antipáticas,, com diálogos ruins e nada naturais. Saudade das garotas dos anos 70. O menininho que faz o pequeno Myers, como já citado, está mais pra clone da Dakota Fanning, e isso não é legal. Malcom Macdowell também não tem metade do interesse que o Donald Pleasence despertava no original. Só quem eu gostei mesmo foi da senhora Myers, interpretada por Sheri Moon Zombie, dona mulher do diretor. Nada de excepcional em sua atuação , mas ela não compromete.

Poderia ser uma grande diversão, mas é só um passatempo esquemático e mórbido. E, estranho, parece que não vai mesmo passar nos cinemas brasileiros, onde qualquer porcaria filiada ao terror ganha espaço e faz sucesso. A coisa realmente está feia para Michael.

- This remake is a piece of shit!


Halloween
/ 2007 / Rob Zombie / (2:35:1)

5 comentários:

Anônimo disse...

cara, Rob Zumbi fez um dos fake trailers de Grindhouse, vamu respeitar o cabeludo...

não vi esse filme, mas pelo visto parece mais uma tentativa infame de multiplicar a maldade dos vilões, fazendo-os mais fortes, rápidos e carniceiros... eu fico imaginando um cara mau como Rob vendo o antigo halloween e pensando "nór, eu faria esse michael muito mais escroto, que desperdício de vilão!"...

o q eu acho legal no original é aquela coisa da lerdeza dos acontecimentos... tipo naquela cena q um guri caminha na calçada e michael o acompanha de carro um tempão... aquilo é um delírio... nunca houve um serial killer tão arrogante quanto ele... aposto que no novo substituiram tudo por corte e câmera tremida e um rocão lôco tocando...

metaleiros, fiquem atrás do metal!

Julio Gomes disse...

Rapazzzzz, beleza de critica!!!! Lavei a alma, mesmo sem ver o remake! Você sabe que sou louco por tudo que o Carpinteiro faz, né? Mesmo o subestimadíssimo "Fuga de Los Angeles", com aqueles efeitos toscos de dar inveja a Robert Rodriguez, tem o final mais filadaputa de politicamente incorreto da história do cinema. Aí vem esse pândego do Zombie meter-se a besta e refilmar "Halloween". Até gostava dele, vi uns daqueles slasher com um "serial-clown" no meio. "A casa dos 1000 corpos" (ou coisa parecida) é o melhor, mais divertido, com uma familia maluquete de assassinos aterrorizando imberbes incautos pelas infinitas highways americanas. Mas até agora nunca passou disso: diversão honesta. Deveria ter permanecido assim.
Julio

.'.Gore Bahia.'. disse...

preciso ver esse filme! que droga, nem na locadora chegou acho rsrs

João Daniel disse...

"Esqueceram" de lançar essa porra,assim como o Death Proof.

Isto é Brasil.

Andressa disse...

Acho você um péssimo crítico, adorei a ideia do filme de explicar como gerou-se o trauma do menino e como agravou sua psicopatia, este filme é excelente em roteiro, em fotografia, seleção de cenas, trilha sonora.

Antes de sair por ai falando mal de filmes, estude mais sobre eles.

POR: Andressa Soares Alv