sexta-feira, 9 de março de 2007

Tudo Sobre Minha Mãe ( ***** )


A primeira vez que vi Tudo Sobre Minha Mãe foi em 2000, em vídeo, quando Pedro Almodóvar era apenas um nome exótico para mim, e só devo ter locado a fita pela curiosidade de ver o vencedor do Oscar de filme estrangeiro daquele ano. Pelo que eu me lembro achei o filme bom ,mas tinha algo nele que me incomodava. O diferente causava desconforto em mim.

Hoje vi o filme novamente. Já queria rever há tempos, mas só agora revi e constatei de verdade como é bom crescer, amadurecer e gostar tanto de uma obra como essa. O filme de Almodóvar na verdade não tem nada de estranho, exótico, mas não tem o mesmo gosto comum de tanta coisa que costumamos consumir, ainda mais com 14 anos de idade.

E também é uma experiência diferente, depois de ter visto outros filmes do diretor, com um olhar já apurado e com muita admiração. Os roteiros dos filmes desse cara são espetaculares, vão a lugares que mais nenhum cineasta conseguiria ir, pelo menos não com essa naturalidade e empatia.

Filmes que pegam você em cheio, e falo por mim, te deixam num ótimo estado de espírito depois que acabam – mesmo os mais, digamos, baixo-astral, como Fale Com Ela e Má Educação.

Bom, talvez o discurso esteja meio exagerado, mas é uma síntese sincera da minha admiração.

Em Tudo Sobre Minha Mãe, há uma homenagem, no título e na trama, ao grande A Malvada(All About Eve/Tudo Sobre Eve). Mulheres, mães, atrizes, todas são alvo dessa homenagem do cineasta, explícita nos letreiros finais. É interessante como as personagens principais são mulheres que se apóiam mutuamente, marginalizadas e despidas de preconceitos. Apanharam muito na vida, mas não se dão por vencidas, a generosidade mora aqui.

E que bom é ver o filme no seu CinemaScope original pela primeira vez, mesmo que em dvd. E que fotografia excepcional do brasileiro Affonso Beato, que penso ter visto como parte da platéia de uma das apresentações teatrais mostradas no filme.

Agora falta ver o resto da filmografia do cara, mas vai ser difícil de achar, afinal creio que não vi nem a metade, e muita coisa não tem em dvd por aqui. Brasileiro sofre...por que não nasci na Argentina?

3 comentários:

Anônimo disse...

Bom, Verhoeven é fera, não há mesmo como negar. Só acho complicado isso de vc dizer que "Instinto" vai "muito além" de "Vertigo". Na qualidade de amante incondicional do filme de Hitch, a ponto mesmo de considerá-lo o melhor filme de todos os tempos (e a cada revisão só tendo a comprovar essa tese), não posso concordar com isso. Mas felizmente vc faz a ressalva da distância do tempo que separa essas duas jóias. Porém, faltou distanciar também o tema, pois embora os dois filmes tratem de sexo e morte como um par inseparável, penso que o primeiro está longe de ser tratado da mesma forma. OK, nos dois filmes o desejo é quase uma danação, em Vertigo ele funciona mais como uma construção, um amor idealizado, que, diante da óbvia impossibilidade de se concretizar, sucumbe às armadilhas da natureza humana.

Anônimo disse...

Já em Verhoeven, o sexo não tem essa carga moral que Vertigo e tantos outros filmes de Hitch trazem (Marnie, Suspeita, Janela Indiscreta...). Verhoeven, acredito, esteja mais para Alamodóvar, onde o desejo, assim como a violência, é uma pulsão incontrolável do homem e toda tentativa vã de reprimí-los é tratada com fina ironia e um tom de perversão (talvez por isso mesmo, seus filmes tenham um certo charme vulgar e cafajeste; veja "Conquista Sangrenta", "Sem Controle", "Showgirls"). Mas os dois são gênios em seu ofício, pena que Verhoeven não tenha o sucesso que mereça.

Anônimo disse...

Candidato a hermano,
Nascer na Argentina foi foda!! Você forçou... quanto à película Almodováriana é sensacional!! Os personagens femininos dos seus filmes são no mínino intrigantes,a sensação que tenho ao fim de uma sessão dessas, que você viu, é muito dual ao mesmo tempo que me reconheço nas personagens, também gostaria de ser como elas... enfim, ninguém mais além de Almodóvar é capaz disso.