segunda-feira, 30 de abril de 2007

As Virgens Suicidas ( **** )


As meninas do bairro

Filme especial esse As Virgens Suicidas. Carregado de nostalgia do início ao fim, bate forte em quem aprecia um certo estado melancólico em filmes, e mais ainda se este estado for ligado à adolescência e suas esquisitices emocionais.

Estréia na direção de Sofia Coppola, Virgens tem as marcas que viriam aparecer nos filmes seguintes da diretora, corroborando que se trata de uma autora, com uma mão única e identificável em sua obra. São apenas três películas (esta, mais Encontros e Desencontros e Maria Antonieta), mas que dizem muito. Na filmografia de Sofia, qualidade significa bem mais que quantidade.

Este aqui lembra as emoções causadas por um vhs perdido no fundo do baú, ou um diário cheio de bobagens e exalando perfume de menina, fotos antigas...Seja lá o que for, o clima de sonho ou lembranças sonhadas faz efeito, sem os vícios do cinema indie americano, muito obrigado.

Uma investigação sobre o que levou as cinco meninas loiras do bairro a cometerem suicídio, cinco fantasmas pairando no ar e que vão ficar para sempre ao redor de todos os garotos da vizinhança. Embora cada cena só explicite o grau de desespero daquelas adolescentes que sofrem na mão de pais castradores, os personagens masculinos se perguntam cada vez mais descrentes sobre o que acontece naquela casa. Mora aqui o único defeito do filme, coisa comum em adaptações literárias. Perdoável.

Além do elenco classe A de veteranos que a diretora conseguiu para coadjuvar no filme (papai deve ter feito uns telefonemas), outro grande acerto é a trilha arrepiante e climática da dupla francesa Air, que divide espaço com hits dos anos 70 e ajuda e muito na narração deste pequeno conto.

O elenco jovem está irreprensível,e o destaque surpreendemente vai para Josh Hartnett. Sua cara de porta cai perfeitamente bem aqui, e Hartnett convence como o adolescente galã que toda escola tem – e, que nesse tipo de filme, sempre se dá mal no futuro, trabalhando no posto de gasolina ou internado numa clínica de reabilitação, interessante.

Pena que um filme tão bom como esse se encontra no limbo pros cinéfilos brasileiros: o dvd praticamente não existe mais para a venda, sabe se lá por quais motivos, é difícil de achar nas locadoras, e só baixando, alugando a fita de vídeo ou esperar uma reprise na tv pra conferir.

Um filme de e para adolescentes que vale muito a pena.
The Virgin Suicides/ Sofia Coppola /1999 (1:85:1)

domingo, 22 de abril de 2007

O Massacre da Serra Elétrica: O Início ( *1/2 )


Mais um pra lixeira
Não ia nem escrever sobre este aqui, mas vendo esse festival de horror, no mau sentido, fiquei curioso sobre o que leva tanta a gente a se envolver em um produto tão gratuito e inócuo, violento em excesso só por não ter a capacidade de ser algo a mais. Bom, por outro lado eu gastei duas horas da minha vendo isso, então talvez tal indagação seja contraditória, mas enfim...

O que mais me incomodou nesse prequel (ou seja, conta eventos que se passam antes do primeiro filme) do remake (quantos títulos...) do Massacre da Serra Elétrica não é só o cheiro de carne podre, mas a total falta de criatividade, tão presente nos filmes de terror. O esquema é praticamente o mesmo da produção de 2003, que era melhor e divertia, sem tirar nem pôr, com uma ou outra variação, pra justificar o trabalho do roteirista.

Mas o plot em si já é imbecil e estraga o que havia de melhor sobre os filmes anteriores da franquia (considerando apenas o original e o remake, os únicos que eu vi. As continuações oitentistas e afins têm cara de lixo), ou seja, o mistério e a insanidade em torno daquela família de canibais. Se um personagens não tem os dentes da frente, se outro é louco e adora arrancar o rosto de suas vítimas e se mais outro não tem as pernas, tudo será explicado aqui, respondendo questões que não precisam de respostas. E tudo tratado como se fosse uma sacada de gênio.

Sobram os sustos básicos de sempre, os mesmos coadjuvantes que sofrem mais uqe os protagonistas, sangue pra tudo o que é lado, e atores como R. Lee Ermey, que um dia trabalhou com Stanley Kubrick, pagando mico em papéis ridículos. Filme forçado e dispensável.

OBS: Não entendi por que esse não passou nos cinemas brasileiros, mesmo tendo sido fracasso nas bilheterias americanas,a julgar pela quantidade de porcarias de quinta que estréiam toda semana no país.

O MELHOR: alguns sustos safados, mas que funcionam
O PIOR: o mau gosto de tudo, e o roteiro retardado

A Rainha ( **1/2 )


God Save The Queen...she ain´t no human being...
Filme bem interessante este A Rainha. Parando pra pensar nele, fica a certeza de ser uma obra de certa forma arrogante e curiosa, pelo tema e por lidar por personagens que são ícones, vivos ou não, e sempre presentes na mídia. Um exemplo que serve de paralelo para se situar seria a idéia de filmar daqui a alguns anos o envolvimento de Lula no escândalo do mensalão, ou melhor ainda, o impeachment de Collor. Imagine aí o personagem tendo conversas com a mulher no meio da madrugada, sendo xingado na rua e se decepcionando quando expulso da cadeira de presidente. E o filme terminaria com ele prometendo voltar um dia. Brrrrr...

Há quem chame este aqui de telefilme cheio de pose, o que não deixa de ser verdade, sem desmerecer a obra do interessante Stephen Frears (Ligações Perigosas, Alta Fidelidade). Mas a estrutura do filme é tão parecida com produções de tv, sem falar no tema que não faria feio numa HBO e BBC, que não dá pra evitar as comparações. Outro fator são as imagens de arquivo que recheiam o filme. Muito estranho ver na telona aquelas cenas de tv, com definição ruim e destoando do resto. Talvez a intenção fosse passar realismo, situar o espectador junto aos fatos e economizar no orçamento, mas não me agradou.

A fotografia do brasileiro Affonso Beato é clássica e bela nas cenas da Famíla Real, e granulada e mais contida nas cenas de Tony Blair, mas isso não diz muita coisa. O elenco está excepcional, e o resultado é positivo.

Curiosamente achei Helen Mirren ao mesmo tempo a melhor e pior coisa do filme. Não se enganem, a atuação dela realmente é muito boa, e os prêmios ganhos por ela são todos merecidos. Mas num filme que aposta tanto na semelhança com a vida e os fatos reais, o fato de Mirren não parecer nem um pouco com a Rainha Elizabeth II atrapalha, e muito. Já Michael Sheen lembra muito Tony Blair e está excelente, embora o personagem seja um favorito do roteirista Peter Morgan. Sheen talvez tenha sido o ator mais injustiçado na temporada de premiações, seu retrato de Blair é muito interessante.

O roteiro de Morgan especula um bocado, mas não importa se você acredita no que o filme mostra entre os bastidores, afinal muito da história são fatos, e é bom saber uma ou mais coisas interessantes sobre a sociedade britânica, a Monarquia e o culto a celebridades.

Outro fato que me chamou a atenção é que o filme não é só de/sobre Elizabeth II, mas também de/sobre Blair e, claro, Ladi Dy, que, não é exagero dizer, pode ser interpretada como a rainha do título (seria uma ironia?), embora aqui se explique o surgimento do “título” Princesa do Povo.

Uma pena que a sessão em que eu vi o filme esteja um inferno, cheio de adolescentes cretinos atrapalhando a sessão, bate boca com lanterninhas, gente falando alto no celular...enfim um verdadeiro inferno, e que me tirou a concentração e também o prazer de apreciar o filme. Agora é esperar para conferir de novo em dvd e, quem sabe, gostar mais.

A cena do cervo é belíssima, e um dos momentos mais inspirados que eu já vi num filme esse ano, ótima sacada do roteirista. Outra cena muito boa é a da garotinha com buquês de flores, forçada, mas bem eficiente.

E o que será que Elizabeth II achou disso tudo? Declarações oficiais afirmam que ela sequer viu o filme, o que a primeira vista pode parecer improvável, mas a julgar pela personalidade dela mostrada aqui, pode bem ser verdade. Talvez só descobriremos sua opinião sobre o filme depois de sua morte ou até mesmo nunca... Nobreza é outra coisa, goste ou não.

O MELHOR: as atuações de Mirren e Sheen O PIOR: a poluição visual e o romantismo excessivo do "personagem" Tony Blair

Entrevista Com o Vampiro ( *** )

A Dança dos Vampiros

Hoje Tom Cruise perdeu muito do prestígio que tinha, afinal todo mundo já sabe das baboseiras que ele anda falando e fazendo em nome da Cientologia, aquela religião obscura que muitas celebridades de Hollywood adoram. Mas antes de falar e fazer besteiras em excesso, Cruise era o garoto símbolo de Hollywood, e cada filme seu era (e de certa forma ainda é) um evento. Fazendo um ou dois filmes por ano, a presença de Cruise na tela jamais era banalizada, e ele sabe como ninguém escolher um projeto.

É dessa fase saudável que vem Entrevista Com O Vampiro. A Warner apostou alto na adaptação de Anne Rice, mas se o nome de Cruise vem primeiro nos créditos, o astro aqui é Brad Pitt, na época em ascensão. De bônus, outro preferido das mulheres - e também decolando em Hollywood na época- Antonio Banderas.

Sim, tirando as observações dispensáveis, vale lembrar que o filme de Neil Jordan, cheio de vampiros de butique, é muito divertido. O clima gótico, Kirsten Dunst pirralha e em ótima atuação, o clima homo erótico entre os atores, o papel de Christian Slater, que seria de River Phoenix, mas que morreu pouco antes das filmagens - e é a ele que a produção é dedicada...

O filme, contando a história de vida de um vampiro melancólico, é bem superficial e cheio de pose, mas a direção do irlandês Neil Jordan é bastante hábil, e há bons momentos aqui, ou seja, o filme é bom. Mas o que mais me chama atenção é que se a mesma história fosse rodada hoje, ela não teria a metade do charme anos 90 que o filme tem – não me pergunte o que é isso, só sei que eu sinto falta. Sem falar que custaria bem mais caro, não teria um elenco desses (imagino Colin Farrel no lugar de Cruise ou Pitt, ou Dakota Faning no lugar de Dunst,brr...). Enfim, divago.

E vale ignorar o tal Rainha dos Condenados (2002), espécie de continuação desse aqui, e que de certa forma ilustra o que imaginei no parágrafo acima. O filme é um lixo, uma das piores sequências que eu já vi.

E o final de Entrevista é safado, mas inspirado.


O MELHOR: A direção de Jordan e o visual inspirado
O PIOR: A continuação horrorosa Rainha dos Condenados, que recebeu tratamento de filme B

terça-feira, 17 de abril de 2007

Embriagado de Amor ( **** )

O amor segundo Paul Thomas Anderson

Vindo dos aclamados(e muito bons,principalmente o primeiro) Boogie Nights e Magnólia, Paul Thomas Anderson (já assinando P.T. Anderson) resolve fazer algo diferente em Embriagado de Amor, e o resultado é bem positivo. Se Boggie Nights lembrava, sem esquecer de ser original, Martin Scorsese e Quentin Tarantino, e Magnólia pagava tributo a Robert Altman, este Punch-Drunk Love lembra bastante o trabalho dos Irmãos Coen. Mas o melhor de tudo é que mesmo recheado de referências,Anderson tem uma voz própria e muitas idéias boas são jogadas para o público.

A escolha de Adam Sandler como protagonista é uma sacada genial. Não se trata das comédias geralmente irritantes que Sandler estrela e estouram nas bilheterias todos os anos. Aqui ele pega o lado mais negro de sua personalidade e compõe a figura frágil e levemente bizarra de Barry Egan, um cara que cresceu nóiado perturbado por sete irmãs pentelhas. Infeliz, solitário e sem saber se expressar, as coisas começam a mudar para Barry quando ele se apaixona, com um certo pé atrás, pela colega de trabalho de uma de suas irmãs. Ela é interpretada pela maravilhosa Emily Watson, e os dois têm uma química muito boa. Lembra um pouco O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, mas sem o açúcar. Curiosamente, Watson era a primeira escolha de Jean Pierre Jeuneut para interpretar Amélie, e isso diz muito.

O ritmo é nervoso e frenético muitas vezes, mas quando filme pára pra respirar, no Havaí, é sensacional. E que imagem é aquela do casal se encontrando num corredor, com aquela paisagem ao fundo?





O som aqui é muito interessante, tanto a sonoplastia em si quanto a trilha sonora do indie Jon Brion, e certos movimentos de câmera deixam um sorriso no rosto – Anderson é um diretor que se preocupa tanto com a parte técnica quanto com o visual e o roteiro, tudo é muito bem equilibrado em seus filmes. Não é a toa que ele é um dos mais admirado de sua geração. Sou fã, e infelizmente ainda não vi seu primeiro filme, Jogada de Risco, com Gwyneth Paltrow, Philip Baker Hall e Samuel L. Jackson, aparentemente inédito em dvd no Brasil.

Filme estranho com gente esquisita, gosto muito. Defino assim por falta de termo melhor, não é uma intenção de catalogar nada nem ninguém... Muito bom.

O MELHOR: o romantismo estranho e a arte de Jeremy Blake
O PIOR: Philip Seymour Hoffman poderia aparecer mais

sábado, 14 de abril de 2007

Pecados íntimos ( **1/2 )


Moral e bons costumes

Se havia um filme de 2006 que prometia muita coisa, este filme era Pecados Íntimos. Seu diretor, o ex-ator Todd Field, fez o premiado, amado e também muito odiado Entre Quatro Paredes, e depois do sucesso deste poderia apostar no que quisesse. Mas pisou na bola.

Baseado num romance de Tom Perrota, autor do livro que deu origem ao excelente Eleição (Alexander Payne,1999), o filme começa muito bem, vai envolvendo, mas tem um desfecho contraditório e que desaba sobre o que havia sido mostrado antes. Sofre da síndrome do moralismo que vem acometendo diversos filmes ”adultos” norte-americanos.

Há quem veja no final uma dose de ironia, mas creio que esta interpretação venha acompanhada de excesso de imaginação, ou de esperança do que poderia ter sido. Field perde uma grande oportunidade de fazer um filme maduro, algo que se não vê frequentemente no cinemão de Hollywood. Acaba sendo tão ou mais infantil quanto seus personagens adultos que se comportam como crianças, daí o título original, Little Children (Criancinhas)

De bom, o elenco, excepcional. Kate Winslet não tem medo de parecer feia aqui; Jennifer Connelly pela primeira vez em muitos filmes deixa de ser a coitadinha de sempre e, mesmo com um papel apagado, está muito boa. Na ala masculina todos se saem bem, com destaque para Jackie Earle Haley, realmente muito bom como um pedófilo recém saído da cadeia e que deixa a comunidade inquieta. Figura estranha, tanto o ator como o personagem, que é filmada de forma mais estranha ainda. Field tenta humanizar a figura, mas o acaba punindo no final, numa espécie de atitude que se poderia esperar da vizinha careta e estúpida da personagem de Winslet, que representa diversas donas-de-casa caretas e estúpidas dos Estados Unidos.

Faltou maturidade.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

300 ( ** )


Os sarados contra os feiosos


Mais um épico ambicioso chegando aos cinemas, 300 tem na direção um forte candidato a diretor cult, Zach Snyder, que ganhou muitos fãs pelo seu razoável remake de Madrugada dos Mortos, deve estar ganhando mais por este aqui, e vai ganhar mais ainda pelo vindouro Watchmen.

300 é quase um irmão de Sin City, por ambos serem crias do quadrinista Frank Miller, por usarem as mesmas técnicas de filmagens e também pela afetação e exagero do produto final.

A duração desse aqui não é um problema, como acontecia na obra de Robert Rodriguez. É mais curto e passa rápido, sem maiores problemas – em Sin City, eu implorei pro filme acabar logo, anestesiado por tanta violência vazia e estilização excessiva. O filme de Snyder é mais controlado e não se apóia tanto na ambientação de mentirinha. Os efeitos são mais convincentes e a encenação flui melhor, mas há graves problemas.

O roteiro de 300 é muito preso a graphic novel que deu origem a tudo. Uma narração extremamente enfadonha, que muitas vezes narra o que se passa na tela. E o filme ainda credita três roteiristas-nenhum dos três percebeu isso?

O elenco no geral é razoável, mas em muitas cenas se confunde atuação com gritos de jogos de futebol. Rodrigo Santoro, coitado, tem um papel ridículo, um imperador que não faria feio numa boite de travestis, extremamente afetado, e com uma voz bizarra. E ainda por cima entra em cena em cima de um carro alegórico digno do carnaval carioca. Estar nesse tipo de filme deve fazer muito bem a carreira de Santoro, mas o cara não dá mesmo sorte com os papéis.

O filme trata basicamente de uma cambada de machões sarados indo descer o pau nos orientais afetados e/ou grotescos, que do jeito que são mostrados, são muito estúpidos e muito fáceis de se derrotar. Ou seja, não há tensão, e os tais espartanos, que como diz o título são trezentos, mas só vemos em cada quadro no máximo uns quarenta, chutam, empalam e cortam na maior facilidade, colocando exército de milhares no chão em questão de segundos.

Isso prova como a direção de Snyder é falha: não dá a dimensão de perigo, as batalhas mostram membros dos combatentes sendo decepados mas a violência é inócua e o ritmo é tão uniforme que o filme chega ao final e você espera por algo a mais. Não há clímax aqui, e eu até agora não entendi aquele fim – sem spoilers por favor. Muito mal conduzido.

O que vale a pena então? Pode-se aproveitar o climão fantasioso da coisa toda, e apesar do defeitos, é um épico mais divertido que os Tróias e Alexandres da vida, que se levavam a sério demais. Não me perguntem o que são os monstros que aparecem no filme, ou as diversas cenas chupadas de Gladiador (os campos de trigo e a trilha, praticamente iguais ao filmeco de Ridley Scott). O visual prende bastante a atenção no início, mas depois de certo tempo tudo se torna mais do mesmo, e isso não é um problema exclusivo , já que acontece também nos semelhantes Sin City e Capitão Sky e o Mundo do Amanhã.

Longe de ser bom, também não é uma bomba, vale o preço do ingresso, nem que seja pela curiosidade quanto ao visual, a história ou a Rodrigo Santoro pagando mais um mico.Melhor sorte para ele na próxima vez.

domingo, 1 de abril de 2007

Letra e Música ( ** )


Aquele filme. De novo. Mais uma vez.


Engraçado, o que mais me incomodou em Letra e Música, foi a obviedade, mais do que esperada, do filme. Tudo aqui é tão padronizado e parecido com comédias românticas que já vimos antes... Do visual aos coadjuvantes, dos cenários à trilha sonora, tudo quase igual. É no mínimo perda de tempo reclamar dos clichês disso aqui, mas quando vemos um filme como Amor Em Jogo (também estrelado por Drew Barrymore) que trazem coisas novas, ou ao menos um roteiro mais esperto, fica difícil ser paciente com isso aqui.

Barrymore faz a personagem simpática, fofinha e alto-astral de sempre, e não reclamamos. Já Hugh Grant, apesar de saber rir de si mesmo, já não convence tanto como antes, e talvez esteja velho demais para esse tipo de papel. Mas o público parece que gosta, então quem sou eu para reclamar disso.

Há aqui uma mais uma paródia de Britney Spears, exagerada mas certeira, confirmando que ela é mesmo a cantora mais sacaneada no cinema. A atriz que interpreta a cantora cabeça de vento é bem ruinzinha, mais um dos equívocos do diretor Marc Lawrence.

O roteiro é de segunda, com personagens inúteis (o bom ator Campbell Scott é desperdiçado, e tem apenas uma cena!), e Barrymore entra em cena de forma nada cativante,- a subhistória do trauma sofrido por ela é bem ruim. Sobra de bom o clipinho cafona que abre e fecha o filme, e o carisma do casal, admito. Um detalhe legal é que os dois parecem se gostar desde o princípio, indo contra a lógica habitual desse tipo de produção. Mas isso é muito pouco. O filme é bem fraquinho, e não se perde nada esperando
pelo dvd.

Irreversível ( ***1/2 )


Cinema exxxtremo


O diretor Gaspar Noé parece procurar um realismo duro em cada cena de seu filme, a até que funciona. Irreversível é para poucos, e não é muito legal ver longas seqüências envolvendo cabeças esmagadas e mulheres sendo estupradas.

Há aqui uma visão fatalista, e o filme sugere que tudo o de ruim que acontece na vida das pessoas já está traçado –e o tempo destrói tudo, o filme diz. Um dia feliz pode acabar de forma terrível.

A personagem de Belucci conta que teve um sonho estranho envolvendo um túnel vermelho; sua personagem decide se arriscar atravessando exatamente um local parecido com o do seu sonho – e eu não sei o que pensar disso. Pessoas sensatas talvez não entrassem ali, mas o diretor quer por que quer provar sua teoria. Cena inquietante.

A câmera aqui é livre e alucinada, tomadas incríveis. Um clube gay que parece uma filial do inferno, sexo explicíto e muito delírio. Não levem a vovó pra ver esse filme.


A estrutura é roubada de Amnésia, com o filme começando de seu final. Achei que o recurso foi melhor aproveitado aqui que o filme de 2000.

Curioso ver uma atriz famosa e associada ao glamour de antigamente como Mônica Belucci aceitar fazer esse filme. Lembrando de Maléna e A Paixão de Cristo, sabemos que sexo e violência não acanham a atriz. E as cenas de intimidade com o seu marido (também na vida real) Vicent Cassel são muito boas.

Sem dúvidas um filme pertubador, Irreversível tem todo esse pessimismo calculado pra polemizar que me lembrou, olha só, 21 Gramas, e isso é bem esquecível. Mas a direção magnífica e o espanto que o filme causa pela dureza valem muito a pena.