De cima pra baixo
Seria tão melhor assistir Quem Quer Ser Um Milionário? sabendo o mínimo possível sobre o filme, já que ao chegar para a sessão já levava uma bagagem enorme de sensações e informações, tipo de coisa que geralmente só funciona em desfavor a percepção do filme. Mas até que tudo ocorreu bem, o filme fluiu. Curiosamente, é o primeiro caso recente de filme vencedor do Oscar lançado no cinema propositadamente depois da cerimônia da Academia. Tivesse o filme perdido os prêmios principais, a maldita distribuidora Europa Filmes estaria com um tremendo pepino em mãos.
Como fã de Danny Boyle (o único filme dele que eu não gostei foi Caiu do Céu, uma bomba, que curiosamente tem muito em comum com o bem superior Milionário) foi fácil gostar deste Charles Dickens pós-moderno. Muitos críticos e intelectuais brasileiros e estrangeiros se incomodaram profundamente com um possível “olhar de cima” dos cineastas, uma visão turva da Índia e a suposta perpetuação de clichês imperialistas sobre o pobre terceiro mundo.
Bobagem. Pode se até acreditar que exista uma visão equivocada, ou o que os produtores fizeram um filme “olhe para os pobrinhos, coitadinhos”, mas prefiro enxergar uma bela fábula sobre perseverança, obstinação e amor. O peso disso tudo, mais a questão destino -ou “estava escrito”- você pode regular através de sua balança de ceticismo ou ingenuidade, vai de cada um.
Evidentemente superestimado, mas um produto bem charmoso e simpático, apesar das misérias expostas, para mim Boyle fez um trabalho bem mais interessante e funcional do que Cidade de Deus, por exemplo, a quem vem sendo bastante comparado. Também me chama a atenção que muita gente que falou mal deste aqui gostou do paternalismo frouxo e patético visto no também recente Linha de Passe, sucesso do cinema brasileiro, um filme “digno” e “nobre”, que nos mostra uma visão ridícula sobre gente da periferia, expostos como se estivessem em um zoológico, para serem estudados por acadêmicos. O que faltou de honestidade em coerência naquele sobra em coração, energia ,otimismo – e, o melhor de tudo, boa cinematografia - em Slumdog Millionaire.
Psiu: já conhecia os créditos finais, pois tinha o filme no computador (err...), pretendendo assistir antes da cerimônia do Oscar. Felizmente deletei o arquivo e assisti no cinema, não sem antes ver aquele trecho umas dez vezes. Jai H!, canção / créditos maravilhosos...
Slumdog Millionaire / Danny Boyle / 2008 (2:35:1)