sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Adiós Miriam e Max
E a Miramax morre mais uma vez. Agora, de vez
Ontem foi anunciado que os últimos escritórios da Miramax foram fechados. Hoje a Disney anunciou que manterá o selo e o seu catálogo, mas a desgraça já havia sido feita, já que o último prego no caixão do estúdio causou certa celeuma na imprensa especializada. Pudera, a Miramax foi simplesmente o estúdio de cinema mais importante da década de 1990, e sem ela o cinema não seria o que é hoje.
Se a Miramax foi importante para a classe cinematográfica, para a indústria, pro Oscar e etc, também foi muito importante na vida de muitos cinéfilos - e na minha também, claro. Rato de locadora que sou, cresci vendo muitos filmes da produtora, associando aqueles títulos a um sentimento de qualidade (o que descobri que nem sempre era verdade) e até de diferença - uma fita com o símbolo da Miramax ou da Dimension na lombada já me chamava a atenção.
Posteriormente o que me fascinou mesmo foram as inúmeras histórias de bastidores do estúdio, a maioria absoluta desses causos protagonizada pelo polêmico Harvey Weinstein (que fundou o estúdio ao lado do irmão Bob Weinsten; este último chefiava o subselo Dimension), seja na luta por Oscars, pela aquisição de filmes ou brigas sobre o corte final das obras.
Como esquecer de quando a Disney, temendo polêmica, obrigou a Miramax a ceder os direitos de distribuição de Dogma, filme de Kevin Smith,um cineasta que foi lançado pelo estúdio? Ou quando o mesmo aconteceu com Farenheit 11/9, o explosivo documentário vencedor da Palma de Ouro em Cannes?
Ou de quando Shakespeare Apaixonado deixou Steven Spielberg com a cara no chão, ao ganhar o prêmio de Melhor Filme no Oscar de 99? Ou quando os Weinstein desistiram de financiar O Senhor dos Anéis (como cortesia, eles permaneceram creditados pela New Line Cinema como produtores executivos da trilogia), um dos maiores "erros" cometidos por eles? Fernando Meirelles tem que beijar os pés de Harvey Weinstein pelo resto da vida, afinal foi por causa da insistência absurda deste que Cidade de Deus conseguiu quatro nomeações no maior prêmio da indústria.
Enfim, as polêmicas e as curiosidades são muitas. Em 1993 a Disney comprou o negócio na mão dos Weinstein, que continuaram comandando artisticamente o estúdio. Foi uma explosão. Vieram títulos como Pulp Fiction - Tempos de Violência, Pânico, Gênio Indomável, A Vida É Bela, além dos vencedores do Oscar O Paciente Inglês (que a Miramax abraçou quando todos os grandes estúdio desistiram do filme), o já citado Shakespeare In Love e Chicago, sem falar na dezena de títulos que conseguiram ser indicados ao prêmio na categoria principal.
Títulos que,independentemente de suas qualidades, ajudaram a alçar o discutível conceito de "filme de arte" à categoria de fenômeno de bilheteria - muitos dramas e comédias "adultas" que saíram de lá faturaram mais de 100 milhões de dólares nas bilheterias domésticas.
Em 2005 os Weinstein desligaram-se da Disney,levando com eles o selo Dimension e fundando a The Weinstein Company - ou seja, a Miramax se multiplicou. Pela Disney ela não fez muito barulho,mas, ironicamente, até agora tinha emplacado mais filmes na categoria principal do Oscar do que os donos originais da marca - sob o comando do produtor Scott Rudin, atual desafeto de Harvey Weinstein (eles brigaram durante a pós-produção de O Leitor) dois dos mais importantes lançamentos desta década, Sangue Negro e Onde Os FracosNão Têm Vez (ambos co-produzidos com a também finada divisão de "filmes de arte" da Paramount) disputaram ferozmente os principais prêmios de uma das mais surpreendentes edições do Oscar, e tornaram-se favoritos do público cinéfilo e da crítica mundial.
Já na casa nova dos Weinstein, projetos promissores como Grindhouse fracassaram, mas a velha chama começou a ser reacesa quando no ano passado Harvey Weinstein relembrou dos velhos tempos,conseguindo emplacar um filme problemático (do conteúdo em si a sua extremamente confusa produção) como O Leitor na corrida pelo Oscar de Melhor Filme,quando 90% do mundo esperava que os imensamente populares Wall-E e Batman - O Cavaleiro das Trevas fossem indicados ao prêmio.
Às voltas com boatos de falência,os Weinstein conseguiram dar uma respirada no final do ano passado com o imenso sucesso e popularidade de Bastardos Inglórios - curiosamente, outro filme que sofreu bastante na sala de edição. Nine, que estreiou hoje em solo brasileiro (mas com distribuição internacional da Sony) vem sendo metralhado pela crítica e, fato impensável há meras semanas,perdeu o Globo de Ouro de Melhor Filme na última cerimônia deste - justamente recebendo um sonoro "não" de uma associação que venera o gênero.O fato acabou arruinando a campanha do filme pelo Oscar, mas mesmo assim o título deve figurar entre os dez escolhidos pela Academia.
Do lado de cá, resta torcer para que os "filmes esquecidos" da Miramax sejam lançados em Dvd no Brasil. Todos os títulos da empresa que foram lançados em VHS no Brasil pela distribuídora PlayArte na década de 1990 permanecem inéditos no formato digital - somente Cop Land, drama policial de 1997,foi lançado em Dvd no ano passado pela Disney Brasil,o que deixou a esperança de que filmes como Pânico e Um Drink No Inferno fossem finalmente lançados no país. Mas até agora, nada aconteceu. E a maior parte do catálogo da distribuidora encontra-se disponível em edições sofríveis de distribuidoras porcas como Paris, Imagem e Europa Filmes.
Boa Sorte aos Weinstein, apesar dos pesares.
O excelente blog Playlist elegeu os melhores e mais importantes títulos da Miramax (em inglês).
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2 comentários:
O estúdio nos proporcionou o ceu (com filmes importantes idnependentes) e o inferno (bem lembrado o triste episódio do Oscar 99). No mais, tudo tem um fim, cedo ou tarde.
Pois é Gustavo, concordo, mas gosto do fato do vencedor de 99 ter sido o Shakespeare In Love, eu adoro esse filme e faço parte da minoria, acho, que acha ele digno do prêmio. Também gosto de O Resgate do Soldado Ryan, que era o favorito, e o Spielberg mereceu aquela estatueta, mas o filme do John Madden é maravilhoso.
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