Árido Movie.
*Texto dedicado a Stephanie Riccio,e a um certo blogueiro secreto...
Vi Bug numa sexta feira. Sessão das 5 da tarde. Muito provavelmente a maioria das pessoas que estavam naquela sala estavam esperando uma variável de Premonição, ou de O Chamado, e receberam na cara um belo exemplar de cinema, duro e sem concessões. Bem feito, e idiota quem reclamou no final, gritando que queria o dinheiro de volta. Quem foi que inventou que filmes têm que carregar o público no colo?
Realmente, a primeira vista isso aqui engana. A partir de determinados momentos do filme esperamos que alguma aberração entre pela porta daquele motel vagabundo e que o filme ganhe ares de filme B dos anos 50; que o fantástico entre ali e proporcione uma história apavorante. Mas em vez de monstros espalhafatosos, o que ganhamos é um conto sobre paranóia, desespero e solidão,que abarca mil metáforas, escolha a sua e seja feliz.
Bug é árido, duro de engolir. Do cenário propriamente dito, ao rosto endurecido de seu elenco. Do clima seco a sensação de que algo está errado, que era melhor não sair de casa. Mas aprendemos que a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa é ficar refém da própria mente, não há mal físico que se compare a isso. Uma dor pode ser aliviada por uma aspirina, mas não há nada que se compare a constatar que você não tem mais freios e não sabe onde está pisando.
William Friedkin dá a tão esperada e merecida volta por cima com este aqui. Diretor do maravilhoso O Exorcista, raro filme setentista popular entre as novas gerações – por motivos óbvios-, o diretor deixa de lado a a babaquice pretensiosa e inchada de seus últimos filmes e se concentra num filme seco e sem concessões pra uma platéia cada vê mais submissa e com medo de pensar. Ashley Judd é outra que ganha respeito e admiração por se entregar a um papel tão difícil e anti-glamour, anti-Hollywood. Respeito não vem fácil, aqui ela conseguiu. E que elenco sensacional.
Bom, se você foi um dos que ficou revoltado por ter entrado na sala de cinema pra ver isso, vá reclamar com a distribuidora, que vendeu um filme como mais um exemplar de terror banal. Neste mundo de rótulos e categorias em que vivemos, Bug estaria bem melhor numa sala de arte, sendo visto por quem merece ou por quem realmente queira passear nesse trem do terror. Por outro lado, é bom ser malvado e forçar a certos debilóides a ver essa massa bruta de horror, que existe lá fora, mas que escondemos embaixo do tapete. Sensacional.