terça-feira, 27 de março de 2007

Cartas de Iwo Jima ( **1/2 )



Clint Eastwood não é Deus

Fui ver esse filme com a expectativa lá na estratosfera, o que geralmente é ruim...Sempre achei esse oba-oba em cima de Clint Eastwood um grande exagero. Praticamente colocam o cara como um mestre, um autor, salvador do cinema adulto americano, tudo um exagero. Acontece que a indústria americana anda cada vez mais patética (só digo que esse ano teremos um filme estrelados pelos robôs Transformers,Jesus...) e quando temos um cineasta que faz filmes minimamente decentes, já é alçado a algo além do que é.

Cartas é um filme bom, com certeza, mas absolutamente convencional, em sua direção, em seu roteiro. Tem uma fotografia diferente, o fato de ser falado em japonês é algo positivo, os atores são bons, mas está muito aquém de filmes de guerra que têm um diferencial , como os ótimos O Resgate do Soldado Ryan e Além da Linha Vermelha, talvez os últimos exemplares decentes do gênero.

Embora tenha toda essa característica japonesa, o filme é americano até a medula. Isso não é defeito, mas esperava uma narrativa mais poética e menos óbvia em certos momentos.

Infelizmente vi o filme antes do anterior A Conquista da Honra, o que talvez fizesse com que eu olhasse a obra com outros olhos,mas, enfim, este aqui é o que é, e deve funcionar sozinho.

Bom ver um estúdio dar dinheiro pra fazer um filme caro como esse, que possui caracteristícas que certamente repelem o público americano médio, que só deve ter visto o filme pelo nome do diretor, o que só demonstra a força que Eastwood tem, e também é admirável o vigor que ele possui. Mas não exageremos minha gente, aqui há cinemão clássico do bons,mas não passa de feijão com arroz.
Letters From Iwo Jima / Clint Eastwood / 2006 / (2:35:1)

sábado, 17 de março de 2007

Babel ( *1/2)


Corra que os mexicanos vêm aí

Babel guarda muitas semelhanças com Crash- No Limite. Se a bomba do americano Paul Haggis conta uma só história com personagens diversos que se cruzam, latem uns pros outros e depois choram que nem bebês no final, o mexicano Alejandro González Iñárritu mostra três histórias em que as ações de um personagem afetam outro alguém, não importa a distância física entre as pessoas. E todos choram que nem bebês no final.

Ambos também pertencem ao gênero gente idiota fazendo coisas estúpidas, o que na verdade não passa de um amontoado de crateras e absurdos imensos em seus determinados roteiros, falhas que infelizmente o público engole direitinho.

Haggis e o mexicano Guilermo Arriaga devem ter freqüentando a mesma escola de escrita, a julgar pela semelhança dos artifícios de manipulação contidos nos roteiros dos dois. Só que se em Crash tudo era brega e descontrolado, em Babel o nível é um pouco melhor . Tirando a absurda historieta que se passa no México, as ambientadas no Marrocos e- principalmente - no Japão funcionam bem, com um ou outro defeito. Só que isso aqui não é uma coletânea de curtas, então tudo vai por água abaixo. A ligação entre as três ações beira o absurdo.

O que mais choca nesse filme é que basicamente se trata de gente muito burra do terceiro mundo ferrando os desenvolvidos. E o filme é dirigido por um mexicano, vê se pode...

Técnicamente Babel é muito bom, o elenco está bem, a música é ok, mas o roteiro é uma lástima- sisudo, equivocado e cheio de si.


Vale pelo elenco e pela última cena, belíssima. Mas não se engane, bom isso aqui não é.
Babel / Alejandro González Iñárritu / 2006 / (1:85:1)

sábado, 10 de março de 2007

Instinto Selvagem ( **** )


Dá pra encarar Instinto Selvagem como um remake hardcore da obra-prima de Alfred Hitchcock, Vertigo ( Um Corpo Que Cai). Só que o filme do holandês Paul Verhoeven vai muito além do que o filme de Hitch foi, afinal os tempos são outros. As cenas de morte e sexo são feitas de formas interessantíssimas. A violência é gráfica, e o sexo quase explícito – e, como estamos falando da geralmente quadrada Hollywood, isso é muito bom.

Sharon Stone deve a sua carreira a este filme, e não importa as porcarias que ela vem fazendo há certo tempo, ela sempre será uma grande estrela e será associada ao glamour do cinemão – já virou um mito. Uma cruzada de pernas, sem calcinha, constrói e salva carreiras.

A história em si do filme não é nada do que já não tenha sido visto antes no SuperCine ou no CinePrivé, mas a direção elegante de Verhoeven dá um prazer todo especial de acompanhar a história. Aqui os homens são burros e manipulados por pensarem muito no que não deveriam pensar, e as mulheres são manipuladoras e sacanas, em diversos sentidos.

A abertura do filme é sensacional, quem esperava que aquilo fosse acontecer? A cena da boite, a cena do interrogatório...é uma coleção absurda de momentos muito bons que recheiam o filme e acabam reduzindo a mediocridade do mistério aqui apresentado. O desfecho ambíguo também é algo positivo.

Suponho que Hitch nunca aceitaria filmar este roteiro, com tudo tão explícito, com essa sensibilidade anos 90. O diretor inglês já brincou várias vezes misturando a sensualidade com a elegância,e também já filmou cenas com violência gore, mas creio que isso aqui seria demais para ele. Mas como espectador, teria achado tudo muito bom.

Um dos filmes símbolos dos anos 90, ótimo.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Tudo Sobre Minha Mãe ( ***** )


A primeira vez que vi Tudo Sobre Minha Mãe foi em 2000, em vídeo, quando Pedro Almodóvar era apenas um nome exótico para mim, e só devo ter locado a fita pela curiosidade de ver o vencedor do Oscar de filme estrangeiro daquele ano. Pelo que eu me lembro achei o filme bom ,mas tinha algo nele que me incomodava. O diferente causava desconforto em mim.

Hoje vi o filme novamente. Já queria rever há tempos, mas só agora revi e constatei de verdade como é bom crescer, amadurecer e gostar tanto de uma obra como essa. O filme de Almodóvar na verdade não tem nada de estranho, exótico, mas não tem o mesmo gosto comum de tanta coisa que costumamos consumir, ainda mais com 14 anos de idade.

E também é uma experiência diferente, depois de ter visto outros filmes do diretor, com um olhar já apurado e com muita admiração. Os roteiros dos filmes desse cara são espetaculares, vão a lugares que mais nenhum cineasta conseguiria ir, pelo menos não com essa naturalidade e empatia.

Filmes que pegam você em cheio, e falo por mim, te deixam num ótimo estado de espírito depois que acabam – mesmo os mais, digamos, baixo-astral, como Fale Com Ela e Má Educação.

Bom, talvez o discurso esteja meio exagerado, mas é uma síntese sincera da minha admiração.

Em Tudo Sobre Minha Mãe, há uma homenagem, no título e na trama, ao grande A Malvada(All About Eve/Tudo Sobre Eve). Mulheres, mães, atrizes, todas são alvo dessa homenagem do cineasta, explícita nos letreiros finais. É interessante como as personagens principais são mulheres que se apóiam mutuamente, marginalizadas e despidas de preconceitos. Apanharam muito na vida, mas não se dão por vencidas, a generosidade mora aqui.

E que bom é ver o filme no seu CinemaScope original pela primeira vez, mesmo que em dvd. E que fotografia excepcional do brasileiro Affonso Beato, que penso ter visto como parte da platéia de uma das apresentações teatrais mostradas no filme.

Agora falta ver o resto da filmografia do cara, mas vai ser difícil de achar, afinal creio que não vi nem a metade, e muita coisa não tem em dvd por aqui. Brasileiro sofre...por que não nasci na Argentina?

Serpentes a Bordo ( ** )


Serpentes a Bordo não é um filme B de raiz, mas um B planejado pra ser B e fazer muita grana. Bom, não deu muito certo, tanto pelo resultado na tela, quanto pela bilheteria fraca que o filme obteve.

Mas é um filme tão safado e orgulhoso de sua canastrice que escapa de ser uma bomba. Pra imaginar o nível de cara de pau presente aqui, basta dizer quem em dois momentos do filme algum personagem solta um “bom,eu não acredito que vou dizer isso, mas a situação é a seguinte...”. Claro que deve ser uma espécie de auto-paródia(é melhor acreditar nisso), e acaba até sendo engraçado.

Samuel L. Jackson é mesmo o cara certo para estar no filme, ele já está virou um especialista em estrelar filmes de primeira(na produção,claro) disfarçados de longas vagabundos. E não tem como não rir na cena em que o seu personagem descobre por um especialista em cobras que alguma substância está atiçando os bichos: That’s good news...snakes ON CRACK!!!!!!!

Bom, o problema é que por mais que o filme seja divertdo, não há tensão. Claro que não é legal ver um monte de cobras saindo de tudo que é lugar dentro de um avião, mas o horror é muito mal explorado aqui. O filme funciona mais como comédia do que como terror, e o diretor parece estar ciente disso. Outro ponto fraco são as tais estrelas do filme-as cobras feitas em computação gráfica são toscas e não convencem de jeito algum.

Filme mais ou menos, vale pela curiosidade.

E eu nem tentei questionar o plano ultra-imbecil dos vilões do filme, afinal pra matar uma testemunha ou derrubar um avião há maneiras bem mais práticas e convincentes do que encher o lugar de serpentes. Mas se eu quis gastar duas horas de minha vida pra ver um filme com uma sinopse dessas, é mais idiotice ainda reclamar do plot.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Borat ( ***1/2 )


De tanto ouvir falar no filme, ver trechos e muita polêmica e discussão, o universo absurdo de Borat já era bastante familiar para mim. E tirando o fato de que eu já conhecia algumas piadas (poucas, para a minha sorte), achei o filme uma das coisas mais engraçadas e interessantes que eu vi nos últimos tempos.

Borat é algo meio insano, pela coragem de despejar na tela os mais variados tipos de preconceitos que muita gente tem,mas poucos admitem. Me lembrou de certa forma uma versão live action de South Park. Judeus, ciganos, gays, texanos, pessoal do Leste Europeu,feministas evitem esse filme, se o senso de humor estiver em falta.

Sacha Baron Cohen é um ator sensacional. Não só pela sua atuação em si, mas pelo jogo de cintura que ele demonstra pra conduzir as situações mais absurdas armadas para o filme. Há aqui um misto de ficção com cenas reais muito bem preparadas, armadilhas pra pegar gente soltando os maiores absurdos, sem saber que está sendo filmada ou sem saber aonde toda situação irá descambar. Se isso é muito curioso, também é um ponto fraco da produção, já que em determinados momentos fica a dúvida de como a situação ocorre, da veracidade do que se passa. Não que isso seja importante ou estrague a diversão, mas me deixou com um pé atrás.

Sem dúvida é uma obra irregular, mas é uma idéia tão inspirada e tem momentos tão sensacionais (a corrida dos judeus,o que é aquilo?) que perdoamos os pontos fracos. E vale lembrar que é um filme anti-caretas.


Agora resta esperar por outro personagem muito bom de Cohen, o repórter de moda austríaco Bruno, figura impagável. Mas agora que todo mundo conhece o comediante, vai ser meio difícil colocar o pessoal do mundo fashion em maus lençóis...
Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan / Larry Charles / 2006 / (1:85:1)

terça-feira, 6 de março de 2007

Apocalypto ( *** )


Apocalypto é uma boa surpresa, afinal eu não suporto os filmes anteriores de Mel Gibson, mas até que me diverti vendo esse. Há aqui muita coisa em comum com Coração Valente e A Paixão de Cristo, dois filmes chatos, pretensiosos e cheios de violência gratuita pra dar e vender. Apocalypto é pretensioso sim (e como não ser com um tema desses?), mas é envolvente e a violência aqui é mais aceitável do que nas outras obras de Gibson, afinal trata do extermínio de uma civilização. Gibson sente prazer em filmar a violência, e aqui você vai ver uma onça mastigar o rosto de uma pessoa, cabeças decepadas, cérebros expostos e outras coisas pouco agradáveis.

O filme é falado num dialeto antigo e o elenco convence na pele do extinto povo maia, mas todo o esforço de ambientação vai por água abaixo quando percebemos as falhas da fotografia digital usada pelo diretor em determinadas cenas, e quando vemos efeitos especiais fracos-como a tal onça, que é muito mal feitinha.

O que mais gostei foi que a história me surpreendeu. Pela sinopse que havia lido superficialmente, pensei que o protagonista seria uma espécie de Rambo primitivo, lutando para salvar/vingar a sua família. Mas o modo como o nosso herói é mostrado é convincente, e ele come o pão que o diabo amassou pra salvar a pele e a de sua família também. Mel Gibson adora um mártir.

A ação é muito bem coreografada, e há cenas muito boas, como a do eclipse na metrópole (fotografia e cenários incríveis aqui). Não há didatismo, e nem texto abrindo e encerrando o filme,ufa. Resumindo, apesar de certos aspectos estranhos, o resultado é positivo.

Agora um porém: dá pra engolir a mensagem de Gibson, sua visão carregada sobre o fim de uma civilização, quando sabemos que o cara é anti-semita, entre outras coisas feias? Isso não vai fazer eu gostar menos da obra, afinal um filme fala por si próprio, mas que isso deixa no ar uma nuvem de hipocrisia, é inegável...

domingo, 4 de março de 2007

O Diabo Veste Prada ( ** )


Anne Hathaway é Andy, uma jornalista recém-formada procurando emprego em Nova York. Acaba indo parar na Runaway, a maior revista de moda dos EUA (um decalque da Vogue), para uma entrevista. Ela não faz a menor idéia de quem seja Miranda Priestley, a editora da tal revista. Como o título já indica, Miranda é o diabo em carne e osso. Uma chefe escrota e imprevisível, respeitada e temida por todos. Por não ter o perfil previsível de todas que se candidatam a uma vaga na Runaway, Andy acaba sendo contratada por Miranda, que vê algo na garota.

Andy trabalha duro, é humilhada costantemente pela chefa, e ainda tem que se desdobrar pra cumprir uma tarefa mais absurda que a outra, tudo para garantir o emprego. Quando está no fundo do poço descobre que resolverá metade de seus problemas parando de se vestir de forma desleixada (?!) e então adquire um senso fashion até então desconhecido, entrando de cabeça no mundo que ela desprezava.

Passa a se importar com roupas, tendências e etc., e ao mesmo tempo em que vai se destacando no emprego, vai ganhando o repúdio da família, dos amigos e do namorado. É a partir daí que o filme desmorona. A personagem de Hathaway trabalha feito uma condenada, se adapta ao ambiente, agarra as suas chances e o filme nos faz acreditar que tudo o que ela fez pelo emprego é anti-ético. Uma baboseira. Não sei se a minha moral é torta, mas não vi nada de demais nas atitudes da garota. Hollywood se fingindo de bonzinha é foda.

O filme em si é divertido, passa rapidinho, mas igual a esse tem um monte, então não há muito para se destacar. Obviamente Meryl Streep entrega mais uma atuação perfeita, fazendo o público se identificar com uma personagem grotesca em suas atitudes e no seu perfil- vale lembrar que a chefe-diaba é baseada na editora da Vogue americana, se não me engano.

Emily Blunt é outro destaque e está tão boa quanto Streep, e Anne Hathaway não tem muito o que fazer aqui, mas cumpre bem o papel de mocinha simpática. Um upgrade do que Julia Roberts fazia anos atrás. Pra quem já teve ou tem um chefe insuportável, vale como um desabafo.

Pra quem gostar desse aqui, vale a pena ver o superior Uma Secretária de Futuro (Working Girl,1988), de Mike Nichols, disponível em dvd. Nele, Melanie Griffith é uma secretária(duh!) lutando pra subir de posição, no ambiente yuppie de Nova York nos anos 80. Vale uma olhada.