Finalmente saiu o poster oficial de Nine. Achei meia boca, poderia ser melhor acabado. Enfim, curioso que tiraram "as velhas" (Judi Dench e Sophia Loren) da arte - e também eliminaram a Fergie, tadinha.
Mais um filme com nove no meio (também tivemos recentemente 9, The Nines, District 9, Nine Lives,ufa), a diversão da imprensa americana é adivinhar quem vai ser indicado ao Oscar. Substituto de Javier Bardem, que abandonou a produção alegando exaustão, Daniel Day-Lewis já é considerado aposta certa (é o primeiro papel leve dele!), Marion Cottilard vai se candidatar a prêmios como protagonista (embora as críticas iniciais apontem todas as atrizes como coadjuvantes) e Penélope Cruz e Kate Hudson vão tentar uma nomeação como atriz coadjuvante. Nicole Kidman já era.Marca também o último trabalho do falecido Anthony Minguella, que assinou o roteiro, adaptação de um musical da Broadway que se baseiou no clássico 8 ½de Fellini.Mas tudo isto é besteira. O mundo quer mesmo é ver Nicole Kidman tirando onda com a Penélope Cruz. O que será que o Tom Cruise vai achar desse filme? - Tô nem aí!
Comparar o livro O Diabo Veste Prada com a sua adaptação cinematográfica (minha primeira impressão sobre o filme pode ser lida aqui) é um exercício interessante sobre como funciona uma adaptação literária para o cinema. Não se engane, o roteiro de Aline Brosh Mackenna sobre o original de Lauren Weisberger não faz feio, é conciso, espirituoso e tem bom diálogos. Mas elimina qualquer resquiício de ousadia e subversão que poderia existir sobre o tema.
Não que o romance vá muito longe. É uma leitura agradável e, apesar do grande número de detalhes sobre o universo editorial que cobre a moda, é basicamente uma obra catártica sobre crescimento profissional e chefes implacáveis, gente sem um pingo de sensibilidade que adora escravizar a alma alheia. A autora inspirou-se na experiência que teve ao trabalhar para a chefona da revista Vogue norte-americana, Anna Wintour. Uma pessoa, dizem por aí, não muito gracinha.
A diaba da vida real, Anne Wintour, levando torta na cara.
No filme de David Frankel, um diretor qualquer nota, o inferno dura só até parte do filme. A Andy Sachs da Anne Hathaway (dona de uma beleza curiosa, boa atriz, bastante carismática) logo passa a ganhar destaque e a questão principal do filme passa a ser uma abordagem bem artificial sobre ética pessoal e profissional. Nada contra, mas soa hipócrita. Miranda Priestley, em mais uma caracterização perfeita e inesquecível de Meryl Streep, passa a ser humanizada. De bruxa, vira um gênio mal-compreendido. De frígida e gélida, passa a ser retratada como uma incompreendida mulher de negócios, que faz aquilo o que uma mulher do seu porte tem que fazer, e portanto é vilanizada.
É um viés interessante e um tanto feminista, ok, passa. No livro não tem nada disso. Mais pé no chão, até porque parece ser bastante ligado aos fatos verídicos que marcaram a vida da autora, Miranda é o que é, uma figura competente, um tanto enigmática e desagradável, cuja visão de vida é de que um empregado não passa de um empregado e deve ser tratado como tal- ou seja, como um pouco menos do que nada. A subtrama envolvendo a suposta demissão de Miranda também só existe em política. Um sabor a mais, afinal o livro é mundano e não tem este tipo de tensão.
Loira na sua encarnação literária e menos sem-noção do que a sua versão em celulóide no começo da saga, Andy não pode não ter os olhos, o sorriso e o charme da Anne Hathaway , mas também é mais crível e determinada no papel. E se no filme Andy e Miranda, cada uma ao seu jeito, passam a ser admiradoras mútuas com um brilhante futuro pela frente, no original o relacionamento termina com um delicioso, merecido e muito esperado “foda-se” vindo da empregada. Ufa, ainda bem.
Os amigos de Andy no filme, apesar dos bons atores, são bem diferentes do original. O gordinho gay fascinado por moda simplesmente não existe no livro, e a Lily cinematográfica, vivida por Tracy Thoms, um das melhores coisas de Death Proof, está apagada e é em tudo diferente da melhor amiga do original – pra se ter uma ideia, no livro ela é promíscua, folgada e alcoólatra. Too much reality to Hollywood. Emily Blunt, hilária no filme, transforma a secretária Emily numa pentelha impagável. Mas, voltando ao livro, originalmente ela é muito mais crível, solidária e palpável.
Os personagens masculinos são os que mais sofrem no roteiro de Mackenna. Subdesenvolvidos, o único que tem um papel bom de verdade é o Stanley Tucci, um grande ator, cujo Nigel é totalmente diferente da versão literária, nos aspectos físicos e caracteristícos, mas bastante crível e interessante na tela. O personagem do namorado, que eu acho o pior defeito do filme,é bem diferente também. O roteiro só fez piorar o cara, e a expressão boçal e de tédio do Adrian Grenier não ajuda nem um pouco. Muito menos o personagem do Simon Baker, um ator razoável, mas no filme só fazendo pose. Seu personagem no livro era muito melhor. Quanto a Gisele Bündchen, citada no livro, assim como Reese Witherspoon e uma ou outra celebridade, sua ponta é apenas curiosa.
PSIU:Em uma manobra manjada para evitar processos, a temida Anne Wintour, ex-chefe da escritora, é citada no livro como uma espécie de rival de Miranda. No filme não se deram a este trabalho, a mensagem está lá bem clara.
O DVD de O Diabo Veste Prada: Boa imagem com o corte original (2:35:1) e faixas de áudio em inglês, português e espanhol. Em vez de vir cheio de frufrus e menus cheios de pose, o dvd de Diabo é bem simples e funcional. Tem comentários em áudio da equipe principal (diretor, fotógrafo, figurinista...), mas a Fox Video fez o favor de não colocar legendas, afinal todo mundo sabe falar e entender inglês no Brasil.
Há trailers, cenas excluídas, erros de gravação e mini-documentários, os chamados featurettes. Um fala da adaptação e do trabalho que foi encontrar um roteirista adequado às necessidades da produtora. Outro aborda a moda em Nova York, mais outro mostra o trabalho da figurinista Patricia Field (digamos assim, uma profissional extravagante), que teve que lidar com um orçamento restrito para obter muitas peças.
A luta pra convencer o estilista Valentino a fazer uma ponta no filme (cena que dura meros segundos) também é retratada em um dos especiais, assim como a abordagem do cotidiano de uma editora-chefe, aparentemente não escrota, de uma revista de moda italiana. Mas o melhor doc é o sobre os chefes sem noção, com o singelo título Do Inferno. Recheado com uma divertida série de entrevistas na rua, relata algumas extravagâncias e maldades desses seres superiores e iluminados que são os patrões.
O dvd atualmente é encontrado apenas com embalagem slim, em qualquer loja virtual ou Americanas da vida, numa capa original ou numa bem feia e bizarra com que a Fox resolveu brindar os cinéfilos recentemente. Inútil. Legendar comentários e baixar preço ninguém quer, infelizmente.
O livro, cuja capinha atual é a mesma capa da primeira versão do dvd (odeio isso, curto capas originais; enfeitar com pôster de filme é trash) também é razoavelmente fácil de serencontrado, e uma vez ou outra entra naquelas promoções de livro por R$10 no submarino. De nada, Submarino.
MAIS SOBRE O FILME: a impagável crítica de Kleber Mendonça Filho, que chama atenção para o fato de que ofilme poderia se passar perfeitamente numa churrascaria.
- That´s All!
The Devil Wears Prada / David Frankel / 2006 / (2:35:1)
"O Diabo Veste Prada" - Lauren Weisberg - Editora Record
Nesta mania irritante de refilmar tudo o que vê pela frente, a vítima da vez do massacre hollywoodiano foi a amada, principalmente pelos cinéfilos saudáveis que cresceram nas décadas de 1980 e 1990, série Sexta- Feira 13. Nada contra remakes, não é uma questão de puritanismo, mas a qualidade dos filmes resulta tão baixa que desanima. Curiosamente, os filmes originais sempre são produções independentes, geralmente feitas com recursos limitados. Nas versões “atualizadas”, a riqueza da produção é inversamente proporcional a falta de criatividade.
Na série original, o psicopata mascarado Jason Voorhees só surgiu no segundo filme, e a famosíssima máscara, ícone rei entre o universo slasher, só aparece no terceiro filme. Na versão de 2009, eles cortam o papo furado e vão logo ao que interessa, com Jason surgindo já parrudo e não demorando muito pra vestir sua fantasia.
Mas o filme sofre do mesmo problema que acometeu outra ressurreição recente de franquia. Como em Superman – O Retorno (diga-se de passagem, um filme bastante razoável) tenta-se atualizar mitos e conceitos para uma plateia, mas não se consegue uma separação total do passado.
Os créditos, sem graça, sem nenhum clima que antecipe o terror que será mostrado, apresenta algumas cenas com a mãe do Jason, a assassina do primeiro filme, de1980, sendo assassinada, e a casa, precisando de uma faxina, em que o filhinho habita. Um prólogo inócuo e preguiçoso, parece que ficaram com preguiça de criar um novo começo. Sem falar que, além de não satisfazer os já iniciados no mundinho de Jason, não deixa lá muito claro a coisa para os não iniciados.
Conhecemos o primeiro grupo de vítimas, e uma garota, a tradicional final girl deste tipo de filme, é poupada por parecer com mamãe Vorhees. Freud explica Jason. Então a história mesmo é do resgate desta garota, e o encontro do irmão dela com um grupo de jovens que se reúnem para um final de semana na casa de um deles – o fato dele morar, sem saber, num local em que Jason sempre matou vários pessoas nem é citado pelo roteiro. Tipo de furo que o roteiro, claro, não faz questão de explicar. Filme slasher sem furos de lógica não tem graça, e não é uma reclamação, é uma constatação. Mas aqui estão abusando.
As vítimas são sem graça, personagens são mal escritos, e o fato do filme ser super povoado não ajuda. Vale notar que são todos brancos e sarados, e os únicos que destoam do grupo, um negro e um asiático, só falam asneiras e caem logo na faca. Não há aqui aquele delicioso clima vagabundo que marcou os primeiros filmes da serie, e que era o seu maior atrativo. Tirando a cena em que uma vítima morre num lago, muito boa e nostálgica (nunca fique embaixo da ponte), o resto é pífio.
Este Sexta Feira 13 with lasers é asséptico e óbvio como muitos produtos direcionados a geração iPod, não é necessário correr riscos e aposta-se no mais que certo. Tudo muito bem produzidinho, o gore é tímido, os sustos são esparsos. Sem graça. Perto do final há momentos de tensão, mas é tudo muito fraco para empolgar. O diretor Marcus Nispel, que fez um trabalho com um grau mínimo de interesse no remake de O Massacre da Serra Elétrica (que, não nego, acho pura diversão), age como um amador aqui. Não parece que são obras do mesmo diretor. Susto final vagabundo. Esperamos que chamem o Steve Miner para comandar o próximo.
Psiu1: O filme é produzido pela Platinum Dunes, do Michael Bay, que refez Massacre da Serra Elétrica e Horror em Amytiville e está preparando uma nova versão de A Hora do Pesadelo. Tenham medo, muito medo. Todos afetados, hiperfotografados, com luz brilhante e mil cortes, parecendo propaganda de desodorante.
Psiu2: Vi Sexta Feira 13 num cinema lotado. Não é uma comédia, mas me garantiu a maior risada que dei este ano na sala escura: um gênio falastrão sentado na fileira de trás soltou que achava que “o loirinho que é o Jason”. E ele falava sério. - Concurso de beleza no Crystal Lake
O meu filme de Halloween este ano (a data mais cinéfila de todas, depois do Natal, claro) foi o clássico Carrie – A Estranha. Daqueles filmes que viram ícones e fonte de referencias a cinéfilos e cineastas das gerações seguintes, o primeiro grande sucesso de Brian DePalma é uma deliciosa, e ao mesmo tempo tétrica, história de bruxa do século XX.
Baseado no primeiro romance de Stephen King, autor que não faz a minha cabeça, mas que deu base para muito filme bom de horror, Carrie é uma maravilha de se ver, e se diferencia das centenas de títulos de horror e fantasia da década de 1970 devido à direção brilhante do mestre DePalma. Os zooms, as telas divididas, os planos mistos e um ou outro brinquedo que o cineasta adora são usados aqui sem afetação e com extrema competência.
Outro ponto que coloca Carrie como um horror digno e classe A é o seu elenco. Sissy Spacek, linda e excelente atriz, usa aqui toda a sua candura e o seu lado diabólico, duas facetas aparentemente antagônicas, mas que enriquecem a sua composição da pobre garota. Ela causa simpatia e comoção por uma personagem que poderia ser facilmente rejeitada pela sua passividade.
Piper Laurie também está sensacional como a bruxa louca que é a mãe de Carrie. Fanática religiosa, ela é uma louca sim, mas uma louca pouco óbvia. Entre o elenco jovem, o destaque fica para Amy Irving, ótima como uma das poucas pessoas do colégio que se apiedam da menina, e Nancy Allen, a vadia do colégio, perfeita. Quando leva um tabefe da professora, numa cena sensacional, todos nos sentimos vingados. Cachorra!
O filme de DePalma continua sendo um marco pela sua criatividade e pela maneira de abordar o assunto, hoje em bastante evidência, do bullyng escolar. Carrietta White é tratada como lixo na escola e como bicho em casa, e quando vemos os desfechos trágicos da perseguição que sofre, ela não é vista exatamente como uma vilã. Da inesquecível e definitiva cena em que ela ensina com quantos números de pirotecnia se fazem um baile escolar, a sua volta para casa, ficamos do lado de sua personagem.
Os contornos góticos e líricos fornecem um clima a mais. Opressivo e belo ao mesmo tempo, é um filme marcante também pela forma como aborda o fanatismo religioso e mostra como gente de Deus pode ser mais malvada que o capeta.
O MELHOR: a sintonia do elenco, o roteiro enxuto e a direção firme e rica
O PIOR: Se fosse mais bem informada, Carrie poderia ser uma mulher rica e viva hoje em dia
PSIU: Em 2002, Carrie ganhou uma versão bem tosca pra televisão. No elenco, a única presença boa é a da excelente Patrica Clarckson como a mamãe doida da Carrie. A mudança mais significativa é que Carrie (aqui interpretada pela musa indie Angela Bettis,esquisitíssima) fica viva no final. Então tá.
O DVD de Carrie – A Estranha:Lançado no Brasil em uma versão sem nenhum extra pela MGM/Fox, Carrie – A Estranha ganhou uma edição especial em 2004. As capinhas são muito parecidas e em ambas as edições só há um disco, mas os extras da Edição Especial são ótimos.
A imagem está bem nítida em widescreen, com o corte original em 1:85:1. Não há comentários do grande Brian DePalma, mas ele e membros do elenco comparecem em documentários extensos sobre a produção e a escalação do elenco. Aqui é oficializada a história de que DePalma e George Lucas realizaram teste de elencos simultâneos, selecionando intérpretes jovens e desconhecidos para as modestas produções Carrie e. ..Guerra nas Estrelas!Uau.
Também temos um featurette sobre o lançamento do livro de Stephen King, galeria de fotos, menus animados (muito bons) e o trailer de cinema original. Inacreditável, nenhum dos extras conta com legenda em português. Foda-se Fox. Que a Carrie puxe o pé do executivo responsável por este descuido. Fácil de achar nas lojas virtuais e, curiosamente, a versão sem extras muitas vezes é mais cara do que a edição especial.