segunda-feira, 25 de maio de 2009

Crepúsculo ( *** )

Estados Unidos registram primeiro caso de vampiros que não gostam de sexo

Vamos lá. Espécie de primo pobre do Harry Potter, a série de livros Crepúsculo (cujas futuras adaptações cinematográficas nos Estados Unidos serão apresentada com o pomposo pré títuloThe Twilight Saga”, mostrando o nível de auto-importância do produto) tem seu primeiro volume transformado em um filme funcional, para quem tiver saco de ignorar a tosquice da coisa toda. É divertido, mas não é necessariamente grande coisa, o que nunca foi um problema para alguns cinéfilos.

Não li o livro, mas pelo filme descobrimos que trata-se de uma história safada que usa a mitologia de vampiros apenas como um trampolim para concorrer com a saga de J.K. Rowling e vender seus idéias pudicos, recheados com doses clichês de romance, ação e um mínimo de mistério. Horror propriamente dito não há, o que já indica sinais de picaretagem.

Mas faz enorme sucesso por aí, principalmente entre as pré-adolescentes, adolescentes, meninas jovens e meninas de todas as idades que pensam que são adolescentes, porque é nada mais nada menos do que uma historinha de príncipe encantado incrustada de referências do mundinho pop, que vão dos já batidos X-Men à filme slasher adolescente. O resultado beira o trash, o que é corroborado por alguns efeitos visuais toscos, mas também não chega a ser um Caminhos do Coração da vida, ufa.

A escritora Stephanie Meyer demonstra a sua esperteza não pelo resultado em si, mas porque oferece a sua platéia algo mais do que batido, mas que ninguém pensou antes dela, o que a torna pioneira ao vender conservadorismo para um público, digamos assim, cada vez mais liberado.

A protagonista é uma virgenzinha branquela recém chegada numa cidadezinha, que atraí um colega bonitão e mauricinho, ainda mais branco do que ela, exatamente pelo seu cheiro virginal, seja lá o que for isso, e pele alva. Cheia de suspeitas, ao presenciar atitudes estranhas do tal colega, ela entra no Google.com e descobre que ele é um vampiro, passando a perna em todos os moradores da cidade, que nunca descobriram isso neste tempo todo.

Iniciam um romance em que, como muitas paixonites adolescentes, ela logo afirma que não pode viver sem ele. Só que a autora, assim como a roteirista, leva isso a sério, o que é justamente um dos motes da série – de quatro livros, todos lançados no Brasil até o fim deste mês.

O fato do nosso vampiro bonitão herói ter quase cem anos nas costas, e a menina ser menor de idade, jamais é questionado. O amor não tem idade, embora o filme passe longe de qualquer lirismo ao estilo Ensina-me a Viver. Quando os amassos entre os dois esquentam (ele tem acesso livre ao quarto dela), em vez de uma ereção, as presas dele aparecem, sugerindo que mais uns beijos depois, plaft, ela está fudida, não literalmente, que fique claro. Portanto, o namoro será pudico, se ela não quiser virar vampira (vampirismo=libertinagem?). Não há sugestões de que o vampiro Edward tenha dado umas durante umas boas décadas. O vampiro que toda mãe adoraria ter como genro.

Apesar da caretice da coisa toda, e da visão extremamente conservadora do livro, que nos apresenta índios (que, saberemos depois, são lobisomens.Zzzzz....) que ironicamente parecem uma versão do white trash americano. O único negro da história é um vampiro bandido do mal. Os vampiros “do bem” são ricos e lindos, parecem que acabaram de sair de um desfile de modas, se arrumando para ir direto pra uma academia de ginástica. Assim é bom.

Dito isto, o filme funciona como diversão razoável, embora nada surpreendente, graças à mão firme com que a diretora Catherine Hardiwcke, do ótimo Aos Treze, conduz o mundinho dos personagens adolescentes, a única coisa do filme que chega perto de algo verdadeiro e convincente.

No mais, também é muito interessante a cena em que toca Muse, haha, e o destino do bandidão dessa primeira versão, com uma sugestão de violência cruel totalmente inesperada, já que o tom de quase todo o filme é morno. Última cena excelente também.

Fica a suspeita de que se fosse dada maior liberdade a Hardwicke, o filme seria mais vibrante e interessante, e consequentemente menos careta. Mas esperar isso num produto tão controladinho pelo estúdio, vigiado por milhares de fãs que exigem uma adaptação fiel (como se o livro fosse insuficiente para acalmar os seus corações) é esperar demais.

O próximo capítulo, Lua Nova, já está sendo filmado à toque de caixa, com os produtores correndo para lançar o produto em novembro deste ano. Má notícia: a direção ficou a cargo de Chris Weitz, que fez o ótimo Um Grande Garoto e também o pavoroso A Bússola de Ouro. Hardwicke, que com Crepúsculo tornou-se a diretora de maior retorno financeiro em Hollywood, se recusou a voltar pelo tempo curto destinado a pré-produção, o que já demonstra que, duh, a onda do estúdio é mesmo faturar, pai!

Incrível que nesta era cínica moderna tantas meninas continuem sonhando com o tal príncipe encantado, em uma obra que prega o valor da castidade, ideia que deve ter surgido em algum circuito careta norte-americano (Meyer é mórmon), e que vem dando muito certo. Quem quiser vampiros assanhados e moderninhos, só recorrendo à série de televisão True Blood mesmo.

Vampiro trepa na árvore!


Twilight / Catherine Hardwicke / 2008 (2:35:1)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

As Ruínas ( ** )

Ler é diferente de ver

A discussão cinema versus literatura, por mais interessante que seja, geralmente resulta em tópicos estéreis, já que cada lado ganha defesa e ataque pertinentes, mas nenhum no fim tem lá muita razão. Mas é muito intrigante e produtivo, para quem se interessa pela mecânica da coisa toda, comparar livros e suas respectivas encarnações cinematográficas, quando se conhece o material original.

Pois bem. Adaptação do livro de Scott Smith (o mesmo autor do romance, e depois filme, Um Plano Simples, pelo qual levou uma indicação ao Oscar), As Ruínas, o filme, é totalmente decepcionante para quem leu o livro e, suspeito, também para o espectador ordinário que nem sabia que este filme veio de um romance.

Não se trata de puritanismo ou apego à obra original, apenas a constatação de que há uma grande distância qualitativa quanto à satisfação causada pelas duas obras distintas. Eu poderia escrever aqui que o autor talvez não tenha gostado nem um pouco com o que fizeram com o seu filhote, mas a questão é que o próprio Smith adaptou o material para o cinema, entregando o tomo ao diretor estreante em longas Carter Smith – o sobrenome é o mesmo, mas não há nenhum parentesco.

O que me chamou atenção é que Smith fez um guião claramente construído para não deixar quem leu o romance- um Best Seller nos Estados Unidos- de fora da festa, já que saber os desdobramentos da trama poderia ser fatal, ainda mais em uma trama de horror. Para ser mais preciso, ele troca o visual e a personalidade dos personagens principais, assim como as situações e o destino de cada um. Não vale a pena revelar aqui o que foi trocado ou modificado, pois este é um texto sem spoilers, recurso que eu acho que deve ser usado com parcimônia e somente se for de real necessidade, com um essencial aviso introdutório, claro.

A revelação das modificações, ou melhor, adaptações, poderia estragar o prazer tanto de quem já leu o livro e quer ver o filme, ou do espectador virgem – mas os primeiros, se ficarem imunes a uma possível decepção, ou até mesmo irritação, iniciais, podem se divertir um pouco, comparando e listando as situações em que Smith teve uma rara chance de brincar mais um pouco com o seu brinquedo, e de dar rumos alternativos a sua obra aparente e inicialmente imutável.

Mas nem tudo é festa. O filme é fraquinho de doer. Um dos produtores é o ator Bem Stiller, e a equipe técnica é lotada de membros classe A, então temos um produto de muito bom gosto, pré-fabricado. Se o romance As Ruínas é uma obra de extremo interesse por construir uma trama de horror e de decadência humana, tanto a moral quanto a física, além de uma ou duas piscadas de olhos sobre temas batidos,mas sempre válidos, como os embates homem contra a natureza, e primeiro mundo contra terceiro mundo, o filme se reduz a uma obra corriqueira e até mesmo banal de terror.

O livro, que é uma trama de terror psicológica, dá agonia pela exatidão sádica da descrição da desgraça dos quatro amigos, culminando em um desfecho amargo. Já o filme é totalmente Hollywood, e me impressionou o quanto ele é curto e totalmente abrupto. Parece que dura apenas meia hora. O que poderia ser um elogio (“é tão bom que passa rápido”) simplesmente não cabe aqui. O filme é apenas ligeiro e raso. Mas Jena Malone é ídola, e ter Yeah Yeah Yeahs nos créditos finais dá ao filme um pouco de respeito, pelo menos para mim.

- Eu quero a minha mãe, um médico e um roteirista com culhões!

The Ruins / Carter Smith / 2008 (2:35:1)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Inglourious Basterds

Nazismo. Niilismo. Salas de cinema que escodem segredos. Brad Pitt e seu bigode bizarro. Diane Kruger. Tarantino. Não tem quem não queira!

Alien - O Oitavo Passageiro (Versão do Diretor) ****

Deveres do Trabalhador

Curiosamente este filme de abertura da celebrada e irregular quadrilogia Alien era o que eu menos gostava dos quatro, já que eu sempre associava a obra à parte da filmografia do Ridley Scott que eu não admirava – aliás, tenho a impressão de que não gosto da maioria dos seus filmes. Curiosamente, adorei esta versão do diretor lançada em 2003, que era pra ser lançada mundialmente nos multiplexes do mundo, mas ficou só no universo do home vídeo.

Com a nova e aparentemente definitiva edição de Blade Runner que Scott lançou há dois anos, também em DVD, estas duas obras marcam o melhor da filmografia do diretor inglês. Esta versão definitiva está disponível em DVD duplo, em uma edição que também apresenta o corte original de 1979, e extras sensacionais. Infelizmente os comentários em áudio não estão legendados em português, obrigado Fox.

O filme se desenvolve como uma mistura inovadora, na época, de conto de casa de mal assombrada e slasher movie, com direito a uma direção de arte de cair o queixo – requinte visual é o que nunca faltou em filme algum do Ridley Scott. Efeitos especiais impressionantes também, que marcaram época em uma época em que Star Wars inovou o segmento. O universo sci-fi nunca foi tão rico como nas décadas de 1970 e 1980, mesmo com os recursos limitados, se comparados a hoje. Os efeitos especiais foram melhorando cada vez mais na indústria norte-americana, mas a criatividade dos cineastas, pelo contrário, foi minguando a cada ano. Triste. Mas voltemos à Nostromo.

É um grande filme também porque permite várias leituras, e os melhores filmes de gênero são aqueles que, além de fornecer diversão instigante, permite que o espectador viaje em sua maionese, e à vontade. Hoje eu vejo Alien – O Oitavo Passageiro como um filme conservador, sem isso ser necessariamente ruim, com uma moral toda especial sobre a postura do ser humano diante do trabalho. Sério.

Pelo menos até ao fim da primeira metade do filme os diálogos giram em torno de direitos trabalhistas, obrigações, tarefas que ninguém quer cumprir, relação entre colegas e decisões que ultrapassam questões éticas. Pode-se estranhar esse lero todo num filme de horror disfarçado de ficção científica, mas tudo cai tão bem aqui, criando um clima realista, totalmente convincente.

Os personagens reclamões, preguiçosos ou poucos espertos são os primeiros a serem empacotados. Ripley, a antológica personagem de Sigourney Weaver, é a única que tem firmeza, responsabilidade e, err, culhões. Ripley é mulher, mas faz aquilo o que um homem tem que fazer. É a final girl definitiva, e nós amamos isso.

E o assédio sexual no ambiente de trabalho minha gente?O alien grotesco não perde a chance de bolinar a personagem da Veronica Cartwright, passando a sua enorme cauda no traseiro da pobre coitada, antes dela passar dessa pra melhor. Depois fica escondidinho na nave, quase hibernando, sendo revelado, num susto sensacional, depois que Ripley tirou a roupa e fica só de calcinha e sutiã,minúsculos por sinal. Teorias afirmam que a cena inicialmente planejada mostraria Sigourney totalmente nua, o que seria uma demonstração da fragilidade do ser humano perante uma máquina mortal, o próprio alien psicopata. Mas nudez frontal em blockbuster não pode, segundo a cartilha, então tentaram diminuir o apelo filosófico, e ficou o erótico. Ficamos então com um e.t. taradão e voyeur, e funciona que é uma beleza.

Bela máquina de sustos, grande filme. As continuações, díspares e interessantíssimas, são um assunto futuro.

- Dá um beijinho no tio!

Alien – The Director´s Cut / Ridley Scott / 2003 (2:35:1)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Filmes de Abril de 2009

1. O Diabo Veste Prada ***

2. O Casamento de Rachel *

3. Legalmente Loira ***

4. Beleza Roubada ****

5. Um Louco Apaixonado **

6. Casamento Grego ***

7. Gran Torino ***

8. O Diário Aberto de R. ***

9. A Última Noite de Boris Grushenko ****

10. Quem Quer Ser Um Milionário? ***

11. Assédio ****

12. A Última Onda ***

13. A Um Passo Para a Eternidade ***

14. El Mariachi ***

15. Passageiros *

16. O Leitor **

17. Pequena Miss Sunshine ***

18. Na Linha de Fogo ****

19. Cortina Rasgada **

20. Todo Mundo Quase Morto ****

21. Borat ***

22. O Príncipe das Sombras ***

23. Monstros VS. Alienígenas **

24. Eu, Robô ***

25. Jantar Com Amigos ***

26. Chumbo Grosso ****

27. Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças *****

28. O Terceiro Tiro **

29. Alien: O Oitavo Passageiro – Versão do Diretor ****